Aula 7 – Tudo o que você precisa saber sobre insuficiência mitral: outros métodos diagnósticos
Dra. Daniella Nazzetta
Embora o ecocardiograma continue sendo o método de escolha inicial para definição de importância anatômica e avaliação etiológica nos pacientes portadores de insuficiência mitral, em alguns casos específicos podemos lançar mão de outros exames de imagem. A ressonância magnética cardíaca, a ventriculografia durante o exame hemodinâmico e a angiotomografia cardíaca são exames que trazem informações mais precisas e estão indicadas principalmente quando há uma discrepância entre os sintomas do paciente e os achados ecocardiográficos, ou quando a ecocardiografia é inconclusiva. Além disso, podem ser úteis no planejamento de intervenções fornecendo informações anatômicas e funcionais mais detalhadas.
A ressonância magnética é uma ferramenta diagnóstica avançada e valiosa na cardiologia, especialmente no diagnóstico e avaliação da insuficiência mitral. Ela nos fornece imagens detalhadas da anatomia cardíaca, permitindo uma avaliação precisa da morfologia da valva mitral, incluindo as cúspides, cordas tendíneas e músculos papilares. Uma das suas principais aplicabilidades seria na quantificação precisa do volume e da fração regurgitante, permitindo uma classificação da insuficiência em leve, moderada ou importante. Além disso, a quantificação do fluxo pode ser usada no monitoramento da progressão da doença, avaliação do impacto hemodinâmico na função ventricular, estratificação de risco e no planejamento de intervenções. Também é possível realizar avaliação da função ventricular esquerda e direita, o que é crucial na avaliação do impacto hemodinâmico da insuficiência mitral. A ressonância pode também detectar a presença de fibrose miocárdica, que pode ocorrer como consequência da valvopatia crônica, ou como substrato para arritmias ventriculares, como no prolapso arritmogênico. Além disso, por ser um método tridimensional, pode avaliar com melhor acurácia a presença de disjunção mitral, uma inserção anormal da linha de flexão do anel mitral na parede atrial, também substrato para o prolapso arritmogênico.
O cateterismo cardíaco é um exame fundamental avaliação pré-operatória dos pacientes com insuficiência mitral importante, quando há suspeita de coronariopatia associada à doença valvar. Durante o exame pode ser realizada a ventriculografia através da injeção de contraste no ventrículo esquerdo, para avaliar a função ventricular esquerda. No contexto da insuficiência mitral, o procedimento também permite a visualização direta do refluxo de sangue do ventrículo esquerdo para o átrio esquerdo durante a sístole, sendo considerado como importante quando maior que 3+. Além disso, podemos realizar medidas de pressões intracavitárias associando o cateterismo de câmaras direitas para definir prognóstico e avaliar o impacto da insuficiência mitral na hemodinâmica cardíaca. Embora seja um procedimento invasivo, sua capacidade de visualização direta do refluxo mitral e avaliação detalhada da função ventricular o tornam uma opção útil em contextos específicos, como na dissociação entre os achados clínicos e exames de imagem.
A angiotomografia cardíaca também é uma ferramenta eficaz na avaliação complementar de pacientes com insuficiência mitral. Sua principal aplicabilidade na cardiologia é a avaliação coronariana, similar ao cateterismo. No entanto, a angiotomografia também fornece imagens de alta resolução das estruturas cardíacas, tornando-se útil no planejamento de intervenções e na avaliação de casos complexos. No que diz respeito à valva mitral, a angiotomografia permite uma avaliação precisa de sua morfologia, como espessamento das cúspides, calcificações e anomalias estruturais, assim como das estruturas ao redor da valva, como o anel, as cordas tendíneas e os músculos papilares. É indicada especialmente na avaliação de calcificações do anel valvar que podem influenciar na abordagem cirúrgica.
A avaliação da insuficiência mitral exige uma abordagem específica e cuidadosa quando há dúvida diagnóstica, pois o paciente pode evoluir de forma desfavorável se não abordado em tempo hábil. O ecocardiograma continua sendo o método de escolha inicial, porém quando necessário, a ressonância magnética cardíaca e a angiotomografia cardíaca oferecem informações detalhadas e específicas que complementam os achados ecocardiográficos. A ventriculografia, embora invasiva, pode ser crucial em situações complexas ou para o planejamento de intervenções. A escolha da modalidade diagnóstica deve ser individualizada, considerando as características clínicas do paciente e as informações necessárias para o manejo adequado da insuficiência mitral.
Referências:
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Quais são os outros métodos para diagnóstico da insuficiência mitral? Este é o tema da aula 7 do nosso curso Fundamentos em Doenças Valvares – tudo o que você precisa saber sobre Insuficiência Mitral. Dra. Daniella Nazzetta explica quando solicitar ressonância magnética, ventriculografia e angiotomografia, que também são exames que ajudam a investigar e concluir o diagnóstico.