Fundamentos em Síndrome Coronária Aguda: tudo o que você precisa saber sobre complicações pós-infarto agudo do miocárdio – Episódio 1: Complicações Mecânicas
Dr Cesar Augusto Caporrino Pereira

Epidemiologia
Dados norte-americanos revelam cerca de 800 mil episódios de infarto agudo do miocárdio (IAM)/ano (600 mil como primeiro evento e 200 mil como infarto recorrente).
Complicações mecânicas pós IAM incidem em torno de 0,3% dos casos, mas com elevada mortalidade, chegando atualmente a 30-40%. A complicação mecânica pós IAM mais comum é a ruptura de septo ventricular, aproximadamente 0,25%.
Houve queda na incidência ao longo das décadas, principalmente devido à reperfusão (fibrinólise e angioplastia).
Pacientes com complicações mecânicas tendem a apresentar as seguintes características:
- Idosos
- Mulheres
- IAM com supradesnivelamento de ST
- Doença renal crônica
- Primeiro IAM
- Choque cardiogênico
Apresentação clínica
Início do evento normalmente acontece na primeira semana, sendo que a trombólise tardia pode abreviar o início do quadro, pois pode levar a uma transformação do infarto isquêmico em hemorrágico e, portanto, a maior probabilidade de ruptura.
*Lembrar sempre que a trombólise bem como a angioplastia reduzem a incidência de complicações mecânicas.
A apresentação pode variar desde um achado incidental até quadro catastrófico como morte súbita na primeira semana de IAM.
Tipos e apresentação
Ruptura de septo ventricular
- Assintomático – choque cardiogênico;
- Sopro holossistólico novo, rude e com frêmito na borda esternal esquerda inferior;
- Shunt esquerda-direita;
- Descontinuidade do septo com evidência de fluxo pelo doppler colorido;
- Salto oximétrico de pelo menos 5% (saturação venosa central O2 para a mista de O2).
Ruptura de músculo papilar
- Edema agudo de pulmão – choque cardiogênico;
- Evidência de regurgitação mitral importante ao ecocardiograma;
- Massa móvel no ventrículo esquerdo com prolapso para átrio esquerdo;
- Onda V gigante na leitura da capilar pulmonar (não é específico desta patologia, lembrando que a ruptura de septo ventricular pode cursar com onda V gigante);
- Pode não apresentar sopro devido à rápida equalização pressórica entre átrio esquerdo e ventrículo esquerdo.
Pseudoaneurisma (ruptura contida)
- Assintomático ou dor torácica ou insuficiência cardíaca;
- Pequeno orifício de comunicação;
- Fluxo de sangue bidirecional através da comunicação;
- Formam-se semanas a anos após o IAM.
Ruptura de parede livre
- Choque cardiogênico – parada cardiorrespiratória;
- Tamponamento cardíaco.

Recomendações gerais
O tratamento conservador cursa com elevada mortalidade e como exemplo temos dados da complicação mecânica mais comum (ruptura de septo ventricular), tendo mortalidade de 94% com tratamento conservador e 47% com tratamento cirúrgico.
Tratamento cirúrgico é o tratamento de escolha, mas caso o paciente apresente risco proibitivo à cirurgia, em alguns casos, há a possibilidade de tratamento percutâneo (será avaliado conforme o caso).
Obviamente, tratamento cirúrgico em pacientes com maior estabilidade clínica tem melhor prognóstico, havendo muitas vezes uma tendência a tentar estabilizar clinicamente ao máximo com medicamentos e suporte mecânico (balão intra-aórtico , impella…) com ideia de cirurgia em cerca de 1 semana ou mais para reduzir risco, tendo como protótipo dessa conduta a ruptura de septo ventricular.
*Essa estabilização clínica inicial, deixando a cirurgia ser realizada em 1 a 2 semanas, leva à redução da mortalidade operatória, mas isso pode ser devido a uma melhor conduta ou mesmo ser um viés de sobrevivência, pois o paciente que fica estável por semanas normalmente tem menor risco de mortalidade e passou pela fase mais aguda.
As diretrizes como um todo, entre elas a da AHA de 2025, afirma que esses pacientes:
- Devem ser tratados em locais de maior expertise (nível 1 de recomendação);
- Suporte mecânico temporário como ponte para cirurgia é ótima opção (nível 2a de recomendação);
- Melhorar estado clínico/hemodinâmico pré-operatório ou profilaticamente.
Referências:
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Assista ao vídeo
Quais são as complicações mais recorrentes pós-infarto agudo do miocárdio? O Dr. Cesar Augusto Caporrino responde essa questão e traz alguns dados de incidência da condição.
Este conteúdo faz parte do primeiro episódio da série Fundamentos em Síndrome Coronária Aguda – tudo o que você precisa saber sobre complicações pós-infarto agudo do miocárdio.

O Triple I - InCor Innovation in Intervention
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