Aterectomia Rotacional com dispositivo Rota Pro®
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Dr. Carlos Campos, Dr. Rafael Nunes e Dra. Luhanda Monti apresentam um caso clínico para explorar a indicação de Rota Pro® em pacientes de alta complexidade anatômica.
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Dr. Carlos Campos, Dr. Rafael Nunes e Dra. Luhanda Monti apresentam um caso clínico para explorar a indicação de Rota Pro® em pacientes de alta complexidade anatômica.
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Dr. Henrique B. Ribeiro traz o caso clínico de um tratamento transcateter em uma paciente com disfunção de bioprótese valvar mitral.
Dr. Roger Godinho
A insuficiência tricúspide (IT) é uma patologia valvular cardíaca frequentemente subestimada. É uma condição relativamente prevalente, e afeta 1,6 milhões de pessoas nos Estados Unidos, levando à progressiva dilatação e falha do Ventrículo Direito (VD). A prevalência dessa patologia aumenta com a idade, elevando também a sua morbidade e impactando negativamente a qualidade de vida dos pacientes. Adicionalmente, estudos demonstram que a gravidade da IT é um preditor independente de mortalidade. Mesmo a IT leve pode ser um sinal de alerta para um prognóstico a longo prazo desfavorável. O tratamento medicamentoso permanece como a terapia inicial de escolha, passando pela utilização de diuréticos com a intenção de diminuir a sobrecarga de volume, e pelo tratamento da causa primária da insuficiência cardíaca. O tratamento cirúrgico também está no rol de opções terapêuticas. Pacientes que serão submetidos à cirurgia valvar do lado esquerdo e apresentam IT importante, devem receber abordagem concomitante da válvula tricúspide. Entretanto, há uma escassez de dados relacionados ao reparo cirúrgico da IT isolada e seu prognóstico a longo prazo. Não está claro o benefício de melhora da mortalidade da estratégia cirúrgica em comparação com o tratamento clínico a longo prazo. Além disso, a mortalidade cirúrgica hospitalar é elevada, girando em torno de 9% dos pacientes. Consequentemente, um número pequeno de pacientes é submetido a esse procedimento. Mais recentemente, com o advento da terapia transcateter o tratamento da IT passou por uma evolução notável.
Terapia transcateter “Edge-to-Edge” (TEER)
A TEER, com dispositivos como o TriClip, tem se mostrado uma opção terapêutica segura e eficaz, melhorando significativamente a qualidade de vida dos pacientes, como demonstrado no estudo TRILUMINATE pivotal. Esta técnica é especialmente efetiva em casos de IT com gaps de coaptação mais estreitos. No entanto, em anatomias valvulares tricúspides complexas, a TEER pode não ser adequada, levando a resultados subótimos.
Substituição Transcateter da Válvula Tricúspide
Para casos em que a TEER não é viável, a substituição transcateter da válvula tricúspide apresenta-se como uma alternativa. O sistema EVOQUE, por exemplo, é um sistema transfemoral autoexpansível e foi o primeiro sistema de substituição valvar tricúspide comercialmente disponível a receber o “CE mark”. A substituição transcateter da válvula tricúspide com esse dispositivo demonstrou ser segura, com redução muito significativa da IT, remodelamento reverso do VD e melhora da qualidade de vida dos pacientes.
Terapia Transcateter Heterotópica
Em estágios avançados da doença, caracterizados por dilatação progressiva do VD, ou em casos com janela ecocardiográfica transesofágica inadequada, a terapia heterotópica da IT passa a ser uma opção viável. O sistema TricValve, composto por duas válvulas autoexpansíveis, implantadas sequencialmente nas veias cava superior e inferior, demonstrou ser uma técnica segura, proporcionando benefícios funcionais e de qualidade de vida em pacientes com IT severa sintomática.
Perspectivas Futuras
A terapia transcateter para IT está se estabelecendo firmemente como uma opção terapêutica valiosa. Embora os resultados sejam promissores, desafios permanecem. A seleção do tratamento ideal depende da anatomia específica da válvula tricúspide, do VD e do estágio da doença. Além disso, complicações como trombose e “leaks” paravalvulares requerem atenção contínua e manejo cuidadoso. A terapia transcateter promete transformar o manejo desta condição, alinhando-se às necessidades de uma população cada vez mais envelhecida e vulnerável. Entretanto, estudos em larga escala são necessários para validar os resultados e elucidar o real impacto clínico dessas opções terapêuticas.
Referências:
Renato Nemoto
A insuficiência aórtica gera uma sobrecarga de volume e pressão no ventrículo esquerdo, causando um remodelamento excêntrico e algum grau de remodelamento concêntrico. Como a insuficiência mitral, pode apresentar a forma crônica ou aguda.
Quando crônica, a principal queixa no departamento de emergência é de insuficiência cardíaca. A congestão deve ser tratada com diureticoterapia e vasodilatação, para redução da pós-carga e da fração regurgitante. O uso de beta-bloqueadores e bloqueadores de canal de cálcio só deve ser realizado em caso de necessidade de controle de uma arritmia, por exemplo a fibrilação atrial, caso contrário, resultará em redução da frequência cardíaca, aumento do volume regurgitante e consequentemente piora dos sintomas. Caso haja evolução para choque cardiogênico, deve-se lançar mão de inotrópicos, vasopressores se necessário, e a principal diferença em relação à IMi é a contraindicação ao uso de Balão intra-aórtico. Esse dispositivo irá aumentar o refluxo aórtico e reduzir o débito cardíaco.
Na IAo aguda, há sobrecarga de volume no ventrículo esquerdo, aumento da PD2 do VE, isso reduz o enchimento ventricular e causa redução do débito cardíaco. Como não há tempo para o remodelamento cardíaco, há pouco complacência e em geral a apresentação é edema agudo de pulmão e choque cardiogênico. As principais causas de IAo aguda são endocardite infecciosa, dissecção de aorta tipo A, ruptura de prótese.
O tratamento definitivo, independente de descompensação aguda ou crônica, é a cirurgia com troca de valva aórtica. Ainda está em estudo e desenvolvimento uma prótese para tratamento percutâneo da insuficiência aórtica.
Referências:
Accorsi, TAD et al. Emergências Relacionadas à Doença Valvar Cardíaca: Uma Revisão Abrangente da Abordagem Inicial no Departamento de Emergência. Arq. bras. cardiol ; 120(5): e20220707, 2023.
Dra. Luhanda Leonora Cardoso Monti Sousa
Após anos utilizando a ISCHEMIA ≥ 10% como ponto de corte a partir do qual, a revascularização miocárdica estaria indicada para melhora de sobrevida na doença arterial coronária (DAC) crônica, com a publicação do ISCHEMIA trial, as diretrizes contemporâneas, abandonaram este quesito como fator prognóstico isolado para indicar a revascularização miocárdica, de tal modo que, atualmente, nos perguntamos se ainda há espaço para isquemia neste cenário.
O primeiro ponto a ser levantado é que, conforme explicado em post prévio: as bases que sustentavam essa indicação eram oriundas de estudos observacionais e somente após o ISCHEMIA é que tivemos dados robustos. No entanto, estes devem ser interpretados com cautela na prática clínica. O segundo ponto é que a presença de isquemia, sobretudo ≥ 10%, continua a configurar um sinal de gravidade em pacientes com DAC crônica, muito embora nenhum estudo robusto tenha conseguido demonstrar plausibilidade biológica que justifique a revascularização de rotina nesses indivíduos.
Porquê da ascensão e queda isquemia ≥ 10%
Tudo começou com Hachamovitch 2, como descrito em post prévio. Posteriormente, os autores de um subestudo do COURAGE, até chegaram a sugerir que partindo de uma isquemia basal moderada a grave, a redução da isquemia residual ≥ 5% poderia ser um alvo terapêutico. No entanto, isto foi apenas uma sugestão, pois a correlação com redução de morte cardiovascular (CV) e infarto agudo do miocárdio (IAM) ocorreu apenas pelo modelo não ajustado (p= 0,001), sem diferença para o modelo ajustado ao risco (p=0,08). A esse respeito, no ISCHEMIA trial, pacientes com DAC crônica e isquemia moderada a importante, tanto o seguimento de 3,2 anos quanto o de 5,7 anos, a revascularização não diferiu do tratamento conservador em termos de mortalidade geral. Embora análises posteriores tenham mostrado uma redução de IAM espontâneo e melhora de angina e redução de morte CV em pacientes do grupo intervenção, estas foram sub análises de um estudo com desfecho primário negativo. Dessa forma, tais dados devem ser considerados de forma individualizada na tomada de decisão, mas com cautela, pois também devemos considerar que houve um aumento de morte por causas não CV no mesmo grupo. As sub-análises do ISCHEMIA EXTEND, revelaram que a gravidade da isquemia se associou com IAM, ao passo que a presença de DAC extensa (escore prognóstico de Duke modificado) se associou não somente ao IAM, como também a maior mortalidade CV. Não obstante, no que tange a sub-análise de completude da revascularização em 1801 pacientes do grupo intervenção do ISCHEMIA, quando comparados aos pacientes do grupo conservador, a revascularização anatômica completa reduziu os eventos ajustados de morte e IAM em 3,5% aos 4 anos (95% CI: -7,2% a 0,0%), ao passo que a revascularização funcional completa redução as taxas de eventos em apenas 2,7% (95% CI: -5,9% a 0,3%). Tais resultados corroboram dados pregressos do estudo, que já mostravam que a complexidade anatômica, parece ser um preditor mais relevante do que a isquemia em termos de eventos CV e resposta à revascularização.
O que dizem as diretrizes:
Em 2021, a ACC/AHA/SCAI Coronary Revascularization guideline, incorporou os resultados do ISCHEMIA, não mais indicando intervenção para prognóstico baseado apenas no grau de isquemia. Outrossim, deu um “downgrade” para IIb nas indicações de revascularização visando reduzir mortalidade global e IIa com o objetivo de reduzir morte CV e IAM, em pacientes multiarteriais, na ausência de lesão de tronco de coronária esquerda (TCE) ou disfunção ventricular e nem mesmo citou isquemia neste cenário. Não obstante, o guideline 2023 AHA/ACC/ACCP/ASPC/NLA/PCNA Chronic Coronary Disease, direcionou os testes funcionais como estratificadores de risco CV e auxiliar na tomada de decisão de casos duvidosos ou em pacientes com sintomas novos ou em piora, mas também não inclui a ISCHEMIA ≥ 10% para indicar intervenção por prognóstico de maneira isolada.
Mas afinal, ainda há espaço para teste de isquemia? Como utilizá-lo na prática?
Opinião de especialista:
Do ponto de vista prático, a isquemia ≥10%, continuará a motivar a estratificação anatômica, até porque, é um marcador de pior prognóstico. Além disso, todos os pacientes do ISCHEMIA trial, tiveram lesão de TCE excluída, seja por angiotomografia de coronárias ou cateterismo cardíaco prévio. No que tange a indicação de revascularização por prognóstico, é provável que fique a cargo da anatomia e seu burden aterosclerótico, de acordo com o número e localização das lesões, ou seja, se estamos diante de uma anatomia de alto risco, como no caso da lesão em TCE e artéria derradeira e multiarteriais com lesões suboclusivas, bem como da função ventricular. Obviamente que nestes casos, a presença de isquemia definitivamente traduz a gravidade.
Neste cenário, a isquemia passa a ter um papel complementar na tomada de decisão, sobretudo na presença de sintomas duvidosos ou lesões ambíguas, mas não deve ser usada como fator prognóstico isolado.
Testes de isquemia como divisor de águas para tomada de decisão em conjunto com outras características:
Referências
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No vídeo “TAVI na estenose aórtica de baixo risco”, Dr. Vitor Rosa traz uma discussão dos resultados do seguimento de 5 anos do estudo PARTNER 3.
Quer saber mais sobre estenose aórtica? Acesse bit.ly/3i_TAVIaortico
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Seguindo a nossa série “5 Minutos em Valvopatias”, confira a segunda parte dos destaques do congresso TCT 2023. Desta vez, o Dr. Vitor Rosa faz um resumo dos estudos TRISCEND ll TRIAL, The Clasp llD TRIAL e VIVA TRIAL, apresentados durante o evento.
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Dr. Roger Godinho, Dr. Alexandre Abizaid e Dr. Carlos Campos fazem um segundo encontro para um bate-papo muito interessante sobre “A Evolução dos Stents Farmacológicos”, desta vez ressaltando pontos importantes para o aprimoramento dos resultados.
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Neste episódio da série “5 Minutos em Valvopatias”, o Dr. Vitor Rosa apresenta a parte 1 dos destaques do congresso TCT 2023. No vídeo, são discutidos os principais estudos sobre doenças valvares apresentados no congresso.
Dr. Roger Godinho
O estudo ORBITA (Objective Randomized Blinded Investigation with Optimal Medical Therapy of Angioplasty in Stable Angina), publicado em 2017 no periódico The Lancet, colocou em xeque a eficácia da intervenção coronária percutânea no aumento da capacidade de exercício e diminuição de sintomas na doença arterial coronária crônica (DAC). O estudo envolveu pacientes portadores de DAC uniarterial (lesões obstrutivas ≥ 70%), e que apresentavam sintomas de angina. Após um período inicial de otimização da terapia antianginosa, os pacientes foram randomizados para angioplastia (n=105) ou placebo (n=95). O estudo foi cego, onde o paciente e seu médico não estavam cientes da estratégia utilizada.
O desfecho primário foi a diferença no tempo de exercício entre os dois braços. De um modo geral não houve diferença entre a capacidade de exercício entre os dois grupos (desfecho primário), e desfechos secundários como frequência de angina e qualidade de vida também não foram diferentes. Por outro lado, a ICP diminuiu a isquemia de acordo com métodos como FFR, iFR e ecocardiograma com estresse farmacológico.
Esses resultados foram majoritariamente encarados com cautela pela comunidade da cardiologia, e a maior prova é que a ICP continuou sendo uma terapia comumente utilizada na DAC estável. Entretanto, o resultado desse estudo e de outros importantes ensaios clínicos com enfoque em prognóstico, como o COURAGE (anterior ao ORBITA) e o ISCHEMIA (posterior ao ORBITA), lançaram dúvidas sobre a eficácia da angioplastia coronária no contexto da DAC crônica. Mas esses reveses sofridos pela estratégia invasiva no tratamento da DAC crônica justificam a dúvida do título? Há realmente alguma dúvida que a ICP seja capaz de aliviar sintomas no paciente portador de DAC crônica? Bem, a depender da literatura existente até então, a resposta é sim.
Entretanto, isso mudou no dia 11 de novembro de 2023, quando foi apresentado no Congresso da American Heart Association e publicado simultaneamente no New England Journal of Medicine o estudo ORBITA-2, com o desafio de isolar o efeito da ICP em pacientes portadores de Angina Estável. Ao contrário do primeiro estudo, no estudo ORBITA 2, os pacientes não estariam recebendo medicamentos antianginosos, e a ICP seria comparada diretamente com placebo. Os pacientes seriam selecionados para o estudo se fossem considerados elegíveis para ICP após avaliação do Heart Team, apresentassem sintomas de angina ou equivalente anginoso, evidência anatômica de pelo menos uma lesão obstrutiva coronariana e isquemia por métodos invasivos ou não invasivos.
A mesma estratégia do primeiro estudo foi utilizada no que diz respeito à metodologia cega do mesmo, e nem o paciente ou seu médico sabiam da estratégia empregada. Os medicamentos antianginosos foram suspensos ou substituídos por medicamentos sem essa propriedade no momento da randomização.
Adicionalmente, todos os pacientes iniciaram uso de terapia antiplaquetária dupla e estatinas de alta potência. Os pacientes então foram submetidos a cateterismo cardíaco enquanto usavam fones de ouvido (com música) para isolamento auditivo durante todo o procedimento. Avaliações fisiológicas invasivas pré-randomização foram realizadas em cada vaso com estenose de pelo menos 50%. Os operadores usaram as avaliações fisiológicas invasivas para identificar os vasos alvo. Pacientes que apresentaram evidência de isquemia em pelo menos um território cardíaco foram considerados elegíveis para serem randomizados. Pacientes que não atendiam a este critério eram retirados do estudo. 301 pacientes foram randomizados, 151 pacientes no grupo ICP e 150 pacientes no grupo placebo.
O desfecho primário, de maneira diferente do primeiro estudo ORBITA, foi um escore de angina, baseado no número de episódios de angina e na necessidade de medicamentos antianginosos. Após 12 semanas de seguimento, os pacientes submetidos a ICP apresentaram menor escore de angina (desfecho primário), angina menos frequente, maior capacidade de exercício e maior melhora da classe funcional da angina, dentre outros resultados. A melhora nos sintomas de angina se deveu principalmente à redução no número diário de episódios, e a realização de ICP aumentou em três vezes as chances do paciente se tornar livre de angina em comparação com o grupo placebo após 12 semanas.
Os resultados do ORBITA-2 diferiram do ORBITA, com a ICP sendo testada como terapia única inicial, sem o uso de terapia medicamentosa antianginosa de base. De acordo com os autores, a recomendação de restringir a ICP a pacientes com resposta inadequada a medicamentos pode selecionar a coorte que menos irá se beneficiar da intervenção. Entretanto, o efeito da ICP sobre o tempo de exercício em esteira no ORBITA-2 ainda foi menor do que o esperado, e os sintomas residuais permaneceram em cerca de 59% dos pacientes, mesmo com a normalização da isquemia, o que demonstra a complexidade da avaliação da angina no paciente portador de coronariopatia.
Apesar disso, esse ensaio clínico demonstrou que, entre pacientes com angina estável e evidência objetiva de isquemia, a angioplastia coronária foi uma arma poderosa para o controle dos sintomas de angina, e pode continuar fazendo parte do arsenal terapêutico, associada ao tratamento medicamentoso, do paciente portador de DAC crônica.
Referências: