Indicação de Intervenção nas valvopatias assintomáticas

Tiago Bignoto

Uma das formas mais complexas de manejar pacientes portadores de valvopatias são aqueles classificados como estágio C, ou seja, pacientes portadores de uma valvopatia importante e assintomáticos.

A graduação da lesão valvar ocorre através de parâmetros ecocardiográficos, mas a decisão de intervenção acaba recaindo na presença de sintomas, pois há muitos anos, já sabemos que, no contexto de uma disfunção valvar importante, a presença de sintomas reduz sobremaneira a sobrevida desses indivíduos.

No entanto, intervir em um paciente assintomático demanda encontrarmos algumas peculiaridades clínicas que a diretriz nacional denomina de complicadores. Os complicadores são achados que sinalizam em algum grau a repercussão hemodinâmica que a disfunção valvar leva às cavidades cardíacas.

O complicador com maior evidência para embasar uma intervenção é a queda na fração de ejeção do ventrículo esquerdo, tanto é que a presença dessa disfunção já subclassifica o paciente como estágio C2. Na mesma linha de raciocínio, vieram as evidências utilizando o método ecocardiográfico strain que nada mais é que uma forma mais sensível de encontrar uma disfunção sistólica subclínica, mas ainda não encontramos uma padronização e um volume muito grande de publicações para que colocasse esse complicador como decisor tão robusto quanto a queda na fração de ejeção.

Além desses achados relacionados à queda na performance sistólica, encontramos dilatações cavitarias como possíveis indicadores de intervenção como medidas do ventrículo esquerdo e até mesmo do átrio esquerdo, a depender da valvopatia em questão.

Uma dilatação atrial pode, inclusive, gerar uma fibrilação atrial relacionada a essa sobrecarga secundária à valvopatia e esse achado também pode ser um indicador de intervenção, pois sinaliza que a repercussão está elevada.

Em última análise, a repercussão do lado direito do coração também pode ser um marcador com a elevação da medida da pressão da artéria pulmonar, que sinaliza o grau da repercussão, apoiando a severidade da disfunção valvar.

Assim, na ausência de sintomas, o cardiologista deve pesquisar detalhadamente a presença de complicadores que são: queda na fração de ejeção, queda no strain miocárdico, dilatações cavitarias, nova fibrilação atrial e elevação da pressão de artéria pulmonar, cada uma com seu respectivo grau de recomendação a depender da valvopatia avaliada.

Referência

1 – Tarasoutchi F, Montera MW, Ramos AIO, et al. Update of the Brazilian Guidelines for Valvular Heart Disease – 2020. Arq Bras Cardiol. 2020 Oct;115(4):720-775.

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