Deterioração de Biopróteses
Muito provavelmente você que acompanha a gente aqui já deve ter visto discussões sobre o implante de prótese biológica e uma possível deterioração com o passar do tempo. Essa, por sinal, é a principal razão para tendermos a não implantação de uma prótese biológica em pacientes muito jovens, pois com o passar dos anos, ela pode se deteriorar e o paciente necessitar de nova abordagem cirúrgica.
Quando implantamos um TAVI, o raciocínio é o mesmo, pois trata-se de uma prótese biológica, mas agora, implantada por via transcateter. Alguns autores já chegaram a discutir ampliar as indicações de TAVI para pacientes mais novos, mas até o momento, não temos dados para predizer a evolução para deterioração desses dispositivos.
O mesmo pode se dizer sobre o tipo de dispositivo. Por mais que se discutam detalhes técnicos entre as próteses auto expansíveis ou balão expansíveis, até essa publicação que vamos comentar agora, ambos os dispositivos tinham evoluções semelhantes e não distinguíamos sobre o espectro de risco de deterioração dos dois mecanismos.
Dados acumulados de trials mais antigos como o CoreValve US e do SURTAVI nos mostram uma incidência menor de deterioração de prótese nesses trabalhos que usaram exclusivamente próteses auto expansíveis.
Baseado nos atuais conceitos de deterioração de bioprótese, como elevação dos gradientes e/ou surgimento de regurgitação maior do que moderada, mais de 4500 pacientes foram acompanhados e os resultados trazem informações muito importantes.
Inicialmente a comparação entre próteses TAVI e próteses convencionais mostra que, ao longo de 5 anos, os pacientes que implantaram TAVI apresentaram menor incidência de deterioração, mais de 5% para a cirurgia convencional e em torno de 1,4% para as próteses TAVI. Essa deterioração, em sua grande maioria era do tipo estenose, muito provavelmente por calcificação dos folhetos.
Nesses pacientes que foram submetidos a TAVI e eram de risco cirúrgico intermediário, pudemos ver que a incidência de deterioração, ou comumente chamado de SVD nos papers atuais foi menor nos pacientes que implantaram próteses auto expansíveis, com folhetos supra anulares, uma característica daqueles dispositivos com melhor performance hemodinâmica, pois colocar os folhetos acima do plano anular leva a uma abertura melhor e menor gradiente trans protético.
Se formos avaliar subgrupos desses achados, foi visto que a diferença positiva para as próteses TAVI em relação a deterioração comparadas às próteses cirúrgicas fica ainda maior quando tempos anel aórtico pequeno e implante de próteses pequenas. Isso pode também ser explicado pela tecnologia das próteses TAVI que são sem anel de fixação de folhetos, trazendo uma hemodinâmica mais “fisiológica”.
Apenas o fato de diagnosticar um paciente com deterioração de bioprótese aórtica, eleva o risco de morte ou rehospitalização em 2 vezes, mostrando a importância desse evento.
E quais foram as variáveis correlacionadas a deterioração nesse grupo de pacientes?
Superfície corpórea aumentada elevou esse risco, provavelmente por aumentar as forças de cisalhamento por fluxo elevado. Já sexo masculino, idade avançada, revascularização previa e FA foram protetores.
Uma possibilidade para explicar essa proteção é que pacientes com história de doença coronariana fazem mais uso de antiagregantes e aqueles com FA usam anticoagulante, podendo ter algum efeito protetor sobre as próteses, mas isso são apenas hipóteses.
Em conclusão, essa foi a primeira vez que encontraram alguma diferença entre os dispositivos transcateter com relação a durabilidade e deterioração, embora o acompanhamento tenha sido de apenas 5 anos. Mas levanta a possibilidade de uma indicação específica do tipo do dispositivo de acordo com idade e expectativa de vida.