Critérios de Duke ISCVID 2023 para Endocardite Infecciosa: O que mudou?
Dra. Lynnie Arouca
A endocardite infecciosa (EI) é uma condição grave com significativa morbidade e mortalidade. Apesar de ter incidência relativamente baixa, de 3 a 15 por 100.000 por ano [1], o que tem se observado é um aumento crescente destes valores. Em parte, isso se deve ao aumento da expectativa de vida, associada à expansão de reparo e/ou substituição das válvulas cardíacas e ao aumento do uso de dispositivos eletrônicos e/ou estruturais implantados no coração.
A EI é um desafio diagnóstico devido à sua apresentação clínica altamente variável. Portanto, como ferramenta para sistematizar este raciocínio e uniformizar sua definição, temos os Critérios de Duke, criados em 1994 e modificados em 2000.
Entretanto, desde então, surgiram mudanças importantes na microbiologia, diagnóstico, epidemiologia e tratamento da EI. Dessa forma, notou-se a necessidade de incorporação de novos métodos e critérios atualizados em sua definição diagnóstica. Assim, recentemente, foi publicado pela International Society for Cardiovascular Infectious Diseases (ISCVID) uma proposta de atualização dos Critérios modificados de Duke 2023. Abaixo, abordaremos as diferenças que foram descritas neste documento:
Em relação aos critérios maiores é importante notar, primeiramente, a modificação de critério ecocardiográfico para critério de imagem. Assim, esse pilar se torna mais abrangente, passando a considerar outros métodos diagnósticos, como a TC cardíaca e o PET/CT. Além disso, surge um novo critério maior – o cirúrgico – quando há visualização intraoperatória de vegetações, sendo valorizado na ausência dos anteriores.
Figura 1: Novos microorganismos típicos incorporados ao critério maior [2]
Quanto aos critérios menores, manteve-se a estrutura primária, mas houve inclusão de alguns parâmetros aos Fatores predisponentes, Fenômenos vasculares e Microbiologia. Foram também acrescentados dois novos pilares: o de exame físico e o de imagem, referindo-se ao PET/CT.
Assim, o que observamos é que os Critérios de Duke ISCVID 2023 vêm de encontro com a necessidade de abranger as mudanças que ocorreram nas últimas duas décadas em relação à microbiologia e epidemiologia da EI, à validação de novos métodos diagnósticos laboratoriais e de imagem e ao crescente uso de dispositivos cardíacos implantáveis. Com essa atualização, temos uma expansão dos critérios como uma tentativa de melhorar a acurácia do diagnóstico da EI e, consequentemente, garantir o tratamento da doença e melhora de prognóstico.
Referências:
- Glaser N, Jackson V, Holzmann MJ, Franco-Cereceda A, Sartipy U. Prosthetic Valve Endocarditis After Surgical Aortic Valve Replacement. Circulation. 2017;136(3):329-31. doi: 10.1161/CIRCULATIONAHA.117.028783.
- Fowler VG, Durack DT, Selton-Suty C, Athan E, Bayer AS, Chamis AL, Dahl A, DiBernardo L, Durante-Mangoni E, Duval X, Fortes CQ, Fosbøl E, Hannan MM, Hasse B, Hoen B, Karchmer AW, Mestres CA, Petti CA, Pizzi MN, Preston SD, Roque A, Vandenesch F, van der Meer JTM, van der Vaart TW, Miro JM. The 2023 Duke-International Society for Cardiovascular Infectious Diseases Criteria for Infective Endocarditis: Updating the Modified Duke Criteria. Clin Infect Dis. 2023 Aug 22;77(4):518-526. doi: 10.1093/cid/ciad271. PMID: 37138445.
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