Editorial TripleI – Preditores de obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo
Mauricio Felippi de Sá Marchi
O implante transcateter da válvula mitral (TMVR) é um tratamento minimamente invasivo para pacientes com doença valvular mitral grave de alto risco para cirurgia de troca valvar convencional. Estudos recentes mostraram a eficácia e segurança de TMVR em pacientes com degeneração de biopróteses valvares (valve-in-valve), disfunção de anuloplastia (valve-in-ring) e calcificação anular mitral (mitral annular calcification – MAC), e com melhora dos resultados nos últimos anos. Exames de imagem, como a tomografia computadorizada tridimensional multislice (MDCT), são fundamentais no planejamento dessas intervenções estruturais transcateter, fornecendo uma compreensão mais profunda da anatomia cardíaca e auxiliando na previsão de complicações periprocedimento.
Uma das mais graves complicações nesse tipo de intervenção é a obstrução da via de saída do ventrículo esquerdo (LVOT). Isso ocorre quando há uma limitação do fluxo sanguíneo do ventrículo esquerdo para a circulação sistêmica.
Nas intervenções mitrais, essa obstrução pode ser causada por um componente fixo, secundário ao prolapso do folheto anterior da válvula mitral em direção ao septo interventricular, criando uma “nova via de saída” (neo-LVOT); ou pela obstrução dinâmica gerada pelo fenômeno de Bernoulli, que empurra o folheto anterior mitral em direção ao septo interventricular durante a sístole.
A avaliação neo-LVOT é melhor realizada pela TC multislice na fase sistólica precoce. Essa nova via de saída é avaliada incorporando uma válvula virtual de acordo com a válvula transcateter a ser implantada sobre a válvula mitral prévia. Após o ajuste da linha central, o valor mínimo da neo-LVOT é estimado na fase sistólica por planimetria em imagens de corte transversal e indexado à área de superfície corporal. Além disso, a distância entre o anel mitral e o septo interventricular também é medida.
Um importante estudo publicado por Yoon et al. avaliou os preditores anatômicos associados à obstrução da via de saída após TMVR.
As principais descobertas do estudo foram: 1) a obstrução da via de saída ocorreu com mais frequência após ViMAC em comparação com ViR e ViV e foi associada a taxas mais altas de eventos adversos do procedimento; e 2) uma área menor de neo-LVOT avaliada pela TC pré-procedimento foi significativamente associada com obstrução da via de saída, com o valor de 170 mm2 definido como o ponto de corte mais acurado na prevenção dessa complicação, com area under the curve (AUC) 0.98, sensibilidade de 96.2% e especificidade de 92.3% (p < 0.001). A área estimada de Neo-LVOT com TC pré-procedimento também mostrou uma correlação inversa com o gradiente máximo de LVOT pós procedimento e uma forte correlação linear com a área real de Neo-LVOT avaliada após implante da valvula, indicando que a metodologia atual para avaliar a neo-LVOT foi robusta no presente estudo. Além disso, a distância do anel mitral ao septo interventricular mostrou excelente valor preditivo para obstrução da via de saída, com AUC 0.91, sensibilidade de 84.6% e especificidade de 95.8% (p < 0.001) para a distância de 17.8 mm. Esta medição é simples e facilmente realizada por ecocardiografia sem simular o procedimento, sendo adjuvante no planejamento do TMVR. [/av_textblock] [av_textblock textblock_styling_align='' textblock_styling='' textblock_styling_gap='' textblock_styling_mobile='' size='15' av-desktop-font-size='' av-medium-font-size='' av-small-font-size='' av-mini-font-size='' font_color='' color='' id='' custom_class='' template_class='' av_uid='av-lk8cmms4' sc_version='1.0' admin_preview_bg=''] Referência:
- Yoon SH et al. Predictors of Left Ventricular Outflow Tract Obstruction After Transcatheter Mitral Valve Replacement. JACC Cardiovasc Interv. 2019 Jan 28;12(2):182-193. doi: 10.1016/j.jcin.2018.12.001. PMID: 30678797.
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