Estenose aórtica normo-fluxo baixo gradiente
Mariana Pezzute Lopes | Vitor Emer Egypto Rosa
Estamos diante de um caso de estenose aórtica normo-fluxo baixo gradiente (EAo NFBG) quando nosso paciente apresenta uma área valvar aórtica <1 cm², gradiente médio de pressão <40 mmHg, além de função ventricular preservada, ou seja, trata-se de um paciente com área valvar compatível com EAo importante porém discordante do gradiente de pressão que apresenta-se baixo. Na maioria dos casos, trata-se de uma estenose aórtica baixo-fluxo baixo-gradiente, porém na EAo NFBG, como o próprio nome diz, o fluxo transvalvar é normal e o "baixo-fluxo" ou “baixo volume ejetado” não ocorre. Geralmente o paciente apresenta um volume sistólico indexado ≥ 35 ml/m². A EAo NFBG é uma condição mais prevalente em idosos, com pequena superfície corpórea e hipertrofia do ventrículo esquerdo menos concêntrica. Sua fisiopatologia ainda está em debate. Existem 2 possíveis explicações:
- Esses pacientes apresentam impedância valvuloarterial alta (ZVA). Nesses casos, tratar-se-iam de pacientes com estenose aórtica de gradiente elevado, entretanto com a pós-carga global (arterial e valvar) desproporcionalmente elevada, fazendo com que houvesse uma redução do gradiente transvalvar.
- A medida de fluxo é inadequada. Atualmente usamos o gradiente médio e o volume ejetado como medidas de fluxo, o que estaria errado de acordo com alguns autores. O correto seria utilizarmos medidas diretas de fluxo, como o Qmean, o que reclassificaria tais pacientes como portadores de baixo-fluxo e baixo-gradiente.
O manejo dessa condição também é controverso, sobretudo porque a gravidade anatômica neste caso não é facilmente definida. Alguns especialistas advogam que se trata de um estágio “intermediário” entre a EAo moderada e a EA clássica de alto gradiente, exigindo monitoramento rigoroso. A própria diretriz da sociedade europeia de cardiologia publicada em 2021 cita que a EAo NFBG na grande maioria das vezes é moderada, sem fazer outra menção. A literatura é divergente sobre o assunto. Uma metanálise recente sugere que o prognóstico dessa patologia é comparável à estenose aórtica importante com gradiente médio > 40mmHg, inclusive com redução de 52% do risco relativo de mortalidade quando realizado intervenção cirúrgica valvar. Contudo, outros estudos revelaram uma mortalidade semelhante à de estenose aórtica moderada.
O assunto ainda demanda debates e novos estudos randomizados, porém de modo geral os pacientes com EAo NFBG sintomáticos parecem se beneficiar de TAVI ou cirurgia valvar convencional apresentando melhores desfechos, principalmente naqueles com escore de cálcio valvar bastante elevado.
Referências
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