Fundamentos em doenças valvares – tudo o que você precisa saber sobre endocardite infecciosa Episódio 5: novos métodos de imagem
Dra. Renata Müller
O avanço dos métodos de imagem tem desempenhado um papel crucial no diagnóstico e manejo da endocardite infecciosa (EI), conforme destacado pelas Diretrizes ESC 2023 para o manejo dessa condição. Tradicionalmente, o diagnóstico dependia da combinação de microbiologia e ecocardiografia, mas atualmente, novos exames de imagem, como a tomografia computadorizada (TC) e a PET-CT, estão sendo incorporados para melhorar a precisão diagnóstica. Esses métodos agora fazem parte dos critérios maiores para o diagnóstico da endocardite infecciosa.
A tomografia computadorizada (TC) se destaca por aumentar a sensibilidade diagnóstica, especialmente em casos com próteses valvares, onde o ecocardiograma pode falhar devido à presença de artefatos. A sensibilidade da TC para vegetações chega a 96%, enquanto sua especificidade é de 97% quando comparada aos achados cirúrgicos. Além disso, a TC é recomendada como exame complementar de escolha quando o ecocardiograma transtorácico ou transesofágico apresentam resultados inconclusivos e a suspeição clínica permanece. É particularmente útil para detectar complicações perivalvares, como abscessos, pseudoaneurismas, fístulas e deiscências, com sensibilidade para essas complicações perivalvares de até 100%.
O PET-CT com FDG (fluordesoxiglicose) tem como as duas principais indicações a detecção de infecções intracardíacas e sistêmicas assintomáticas. É um método bastante sensível quando se trata de prótese valvar e infecção de loja de marcapasso, porém, perde acurácia quando o assunto é prótese nativa, com sensibilidade girando em torno de 36% neste cenário. O PET-FDG/CT consegue reclassificar até 11% dos casos “possíveis” de EI em “definitivos”, auxiliando em modificações no tratamento em cerca de 31% dos pacientes.
No entanto, existe o risco de falsos positivos em pacientes submetidos a cirurgias recentes (menos de 3 meses) ou com materiais específicos, como a prótese de Dacron. Por essa razão, o PET-CT deve ser realizado idealmente três meses após a intervenção cirúrgica para evitar interpretações incorretas. Vale ressaltar que um PET-FDG/CT positivo com menos de 3 meses da cirurgia cardíaca, agora pontua como critério menor para o diagnóstico de EI na Diretriz da ESC 2023.
A ressonância magnética (RM), apesar de apresentar limitações devido à baixa resolução espacial e interferência por artefatos de próteses, tem grande utilidade na avaliação de complicações neurológicas e lesões vertebrais associadas à endocardite. Cerca de 60-80% dos pacientes com endocardite apresentam algum grau de lesão neurológica, e a RM se mostrou superior à TC na detecção dessas complicações, contribuindo para a reclassificação diagnóstica de até 25% dos casos.
Parece haver um consenso neste momento de que a estratégia mais adequada é a combinação de métodos. O ecocardiograma transtorácico continua sendo o exame inicial, mas sua combinação com outras modalidades de imagem, como a TC e o PET-CT, é essencial para confirmar diagnósticos complexos, planejar intervenções cirúrgicas e monitorar complicações em pacientes de alto risco. O uso de múltiplas técnicas permite uma avaliação mais abrangente da extensão da doença e das complicações sistêmicas.
Assim, o uso de novas tecnologias de imagem está transformando o diagnóstico e manejo da endocardite infecciosa, oferecendo maior precisão e sensibilidade, especialmente em casos complexos ou com limitações em exames convencionais. A aplicação correta dessas técnicas, conforme destacado pela Diretriz da ESC de 2023, é essencial para garantir um tratamento eficaz e reduzir a morbidade e mortalidade associadas à doença.
Referências Bibliográficas:
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Como podemos utilizar os novos métodos de imagem para diagnóstico e pesquisa de complicações da endocardite infecciosa? A Dra. Renata Müller explica sobre o assunto no quinto episódio da série Fundamentos em Doenças Valvares – tudo o que você precisa saber sobre endocardite infecciosa.
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