INVICTUS – O que muda na nossa prática?

Marcus Vinicius Briani | Vitor Emer Egypto Rosa

O estudo INVICTUS (Rivaroxaban in Rheumatic Heart Disease-Associated Atrial Fibrilation) realizado por Connoly e colaboradores, apresentado no congresso da European Society of Cardiology 2022 e publicado pelo New England Journal of Medicine em agosto de 2022, mostrou-se uma “pedra no sapato” na tendência atual em substituir o uso de antagonista da vitamina K (varfarina) pelos anticoagulantes de ação direta (DOAC) em pacientes com fibrilação atrial. Diversos estudos multicêntricos publicados nas últimas décadas (RELY, ROCKET-AF, ARISTOTLE) têm evidenciado que os DOAC são opções seguras em relação à mortalidade, sangramentos e redução de acidente vascular encefálico (AVC) em pacientes com fibrilação atrial quando comparados à varfarina, que tem características farmacológicas peculiares e apresenta muitas interações medicamentosas que podem dificultar a adesão ao tratamento dos pacientes. No entanto, tais estudos não incluíram indivíduos com fibrilação atrial e valvopatia reumática em suas amostras.

A febre reumática, sobretudo a cardiopatia reumática crônica, é uma doença negligenciada e ainda muito prevalente em países em desenvolvimento, sendo a principal causa de valvopatia adquirida no Brasil. Pela primeira vez, através do estudo INVICTUS, foi comparado o uso de varfarina com um DOAC (rivaroxabana) em pacientes com valvopatia reumática. Os critérios de inclusão foram a presença de fibrilação ou flutter atrial e pelo menos um dos seguintes: escore de CHA2DS2VASc ≥ 2, estenose mitral com área valvar < 2 cm2 ou presença ecocardiográfica de contraste espontâneo ou trombo em átrio esquerdo.

Do total, 85% dos pacientes do estudo apresentavam estenose mitral. Foram randomizados 4565 pacientes de 24 países para uso de rivaroxabana 15-20 mg/dia (dose dependente de clearance de creatinina) versus varfarina com dose ajustada para INR 2-3. O desfecho primário foi o composto de AVC, embolia sistêmica, infarto ou morte de causa vascular (cardíaca ou não). O INVICTUS mostrou um aumento do desfecho primário no grupo rivaroxabana em relação à varfarina (HR 1,25; IC 95% 1,10-1,41; p < 0,001), sobretudo de AVC e mortalidade (37% e 25%, respectivamente), e sem diferença estatística entre os grupos em relação à ocorrência de sangramentos maiores. Tendo como base os resultados do INVICTUS, podemos concluir que até o momento não há evidência para o uso de DOAC em pacientes com fibrilação atrial e valvopatia reumática. Desta forma, em nossa prática clínica, devemos continuar utilizando varfarina em tais pacientes, conforme recomendação atual das diretrizes de valvopatias. [/av_textblock] [av_textblock textblock_styling_align='' textblock_styling='' textblock_styling_gap='' textblock_styling_mobile='' size='15' av-desktop-font-size='' av-medium-font-size='' av-small-font-size='' av-mini-font-size='' font_color='' color='' id='' custom_class='' template_class='' av_uid='av-lk8cmms4' sc_version='1.0' admin_preview_bg='']

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