O Acesso Vascular em Pacientes com Doença Arterial Periférica Submetidos à Troca Valvar Aórtica Transcateter
Mauricio Felippi de Sá Marchi
Recentemente, o estudo “Vascular Access in Patients With Peripheral Arterial Disease Undergoing TAVR: The Hostile Registry” foi publicado na revista Journal of the American College of Cardiology, trazendo à tona um importante tema de interesse da comunidade cardiológica. Atualmente, a via femoral é considerada a via preferencial para a realização da Troca Valvar Aórtica Transcateter (TAVR), porém, sabemos que até 15% dos pacientes não são adequados para acesso por essa via devido à presença de fatores limitantes como doença arterial periférica significativa, calcificação vascular acentuada, tortuosidade significativa dos vasos periféricos, grandes aneurismas infrarrenais e doença aórtica limitante.
Neste estudo, pacientes com doença arterial periférica e acesso femoral com contraindicações foram incluídos em 28 centros internacionais. Foram comparados os desfechos clínicos em pacientes submetidos à TAVR por meio de três vias de acesso: trans-femoral, transtorácico e acesso alternativo não torácico (sobretudo trans-subclávia). O desfecho primário foi o risco ajustado à propensão de eventos adversos maiores (MACE) de 30 dias, definido como o composto de mortalidade por todas as causas, acidente vascular cerebral/ataque isquêmico transitório (AIT) ou complicações vasculares maiores do Valve Academic Research Consortium 3 relacionadas ao local de acesso principal. Os desfechos também foram estratificados de acordo com a gravidade da DAP usando um novo escore de risco (escore Hostile).
Dentre os 1.707 pacientes incluídos no registro, 518 (30,3%) foram submetidos a TAVR com TFA após tratamento percutâneo, 642 (37,6%) com TTA e 547 (32,0%) com TAA (principalmente transaxilar). Em comparação com a TTA, tanto a TFA (HR ajustado: 0,58; IC 95%: 0,45-0,75) quanto a TAA (HR ajustada: 0,60; IC 95%: 0,47-0,78) foram associadas a menores taxas de MACE em 30 dias, impulsionadas por menos complicações relacionadas ao local de acesso. Os riscos compostos em 1 ano também foram menores com TFA e TAA em comparação com TTA. TFA em comparação com a TAA foi associada a um menor risco de AVC/AIT em 1 ano (HR ajustada: 0,49; IC 95%: 0,24-0,98), um achado restrito a pacientes com baixos escores Hostile (Pinteração = 0,049).
Os resultados mostraram que tanto o acesso trans-femoral quanto o acesso alternativo não torácico estão associados a menores taxas de MACE em 30 dias e 1 ano, em comparação ao acesso transtorácico. Além disso, o acesso trans-femoral foi associado a um menor risco de acidente vascular cerebral/ataque isquêmico transitório em 1 ano, comparado ao acesso alternativo não torácico. Esses resultados são importantes, pois ao longo dos anos, a questão do acesso ideal para pacientes com doença arterial periférica grave submetidos à TAVR tem sido controversa, sem evidências estatísticas comprobatórias da superioridade de uma via de acesso em relação à outra.
Em conclusão, o presente estudo sugere que tanto o acesso trans-femoral quanto o acesso alternativo não torácico são viáveis e associados a menores taxas de eventos adversos em pacientes com doença arterial periférica submetidos à TAVR.
Referências
- 1 – Tullio Palmerini et al. Vascular Access in Patients With Peripheral Arterial Disease Undergoing TAVR: The Hostile Registry. J Am Coll Cardiol Intv. Jan 18, 202
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