Vai operar a IM e tem IT. O que você deve fazer?

Tiago Bignoto

Há tempos, dizíamos que o cirurgião deveria avaliar a valva tricúspide quando a correção da valva mitral seria realizada. Isso mudou e já existem evidências suficientes para indicar uma abordagem conjunta no mesmo tempo cirúrgico.

Diante de um paciente que tem a indicação de intervenção do lado esquerdo do coração, no pré-operatório o cardiologista já deve avaliar a valva tricúspide e decidir se haverá ou não intervenção nela. Isso não deve ficar para ser decidido no intra-operatório.

Então vem o questionamento: Quando intervir? e ainda, como intervir?

Os critérios de indicação estão bem estabelecidos. Diante de um anel tricúspide > 40mm (medida realizada pela janela apical 4 câmaras) e/ou diante de um grau de refluxo moderado ou superior deve-se corrigir essa valvopatia para evitar uma progressão futura e assim, não se deparar com a necessidade após 2-3 anos de ter que intervir isoladamente em uma insuficiência tricúspide.

E o que o cirurgião deveria fazer? Idealmente a indicação é plastia com anel rígido… Alguns cirurgiões acreditam que a técnica de DeVega ou mesmo DeVega modificada apresentam resultados semelhantes, mas isso não se comprova no acompanhamento a longo prazo. No caso de não haver disponibilidade do anel rígido, deve-se pensar em troca valvar com prótese biológica, já que a mecânica apresenta elevada incidência de eventos tromboembólicos nessa posição. Nada de “hemiplastia” (sic) ou “plastia frouxa para deixar um escape”.

Pacientes com elevados graus de hipertensão pulmonar não apresentam contra indicação a essa correção. O fato de haver hipertensão pulmonar apenas traz para o paciente um prognóstico de sobrevida pior do que aqueles que não apresentam esses níveis de pressão. A única consideração que deve ser feita é diante do paciente com disfunção sistólica do VD de grau importante e hipertensão arterial pulmonar importante. Nesse caso, não devemos realizar a intervenção tricuspídea diante da morbimortalidade elevada no POI.

Pacientes com fibrilação atrial crônica e que não fazem a correção conjunta ou que a fazem, mas com as técnicas descritas acima, fora o anel rígido, costumam ter evolução dramática para recorrência de refluxo importante e progressão para disfunção sistólica do VD de grau avançado.

Referência

1 – Dreyfus GD, Martin RP, Chan KM, et al. Functional tricuspid regurgitation: a need to revise our understanding. J Am Coll Cardiol. 2015 Jun 2;65(21):2331-6.

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