O uso da ressonância na Insuficiência Aórtica, como interpretar?
A Insuficiência aórtica crônica leva a um estado de elevada pré e pós-carga, que se não tratada por intervenção no momento certo, evolui para disfunção sistólica do ventrículo esquerdo e morte.
Atualmente o método padrão-ouro para avaliação, tanto de gravidade, quanto de repercussões hemodinâmicas é o ecocardiograma, mas em casos de janelas inadequadas ou dúvidas diagnósticas, podemos lançar mão do uso da ressonância que tem excelente acurácia volumétrica e com a possibilidade de pesquisar fibrose miocárdica no mesmo tempo.
Embora seja um método extremamente preciso em condições ideais, a ressonância pode enfrentar determinados desafios, como arritmia ou dupla lesão aórtica. Na primeira, o fato de termos diversos tempos diastólicos distintos, faz alguns ciclos não serem considerados na reconstrução, levando a um elevado tempo de aquisição de imagem e, muitas vezes, impossibilitando o tempo de apneia. Já na dupla lesão, para uma medida mais fidedigna da velocidade de pico, é necessário elevar o VENC (similar ao limite de Nyquist no Ecocardiograma) o que prejudica a definição do volume regurgitante.
De forma similar ao ecocardiograma, a ressonância também é capaz de graduar a gravidade da lesão e isso foi possível nas comparações dos volumes regurgitantes e a curva livre de eventos. Viu-se que indivíduos com mais do que 33% de volume regurgitante evoluíam para necessidade de troca valvar.
De forma mais prática, a graduação fica: < 20% para lesões leves; > 40% para as graves e entre esses valores, lesão moderada. A presença de fluxo reverso na aorta abdominal também classifica, assim como no ecocardiograma, a lesão como importante.
Outro uso interessante da ressonância está na análise do Leak para-protético pós-TAVR. Embora a presença de um stent metálico possa ser causador de artefatos, cortes em níveis diferentes trazem uma boa acurácia, tão bem comparada à ecocardiografia transesofágica.
Um conceito interessante que estabelecemos é que a ressonância não parece ser um exame necessário para todos os pacientes com insuficiência aórtica, mas em casos selecionados, pode ser fundamental para avaliar estratégias de abordagem ou mesmo estimar prognóstico. Em tempos de abordagem com exames de imagem multimodalidade, entender em que a ressonância pode ser útil aumenta as armas do cardiologista frente ao portador de doença valvar.
Referência Bibliográfica
1 – Lee JC, Branch KR, Hamilton-Craig C, Krieger EV. Evaluation of aortic regurgitation with cardiac magnetic resonance imaging: a systematic review. Heart. 2018;104(2):103-110.
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