O Racional do Heart Team na tomada de decisão da Doença Coronária Crônica na era contemporânea

Dra. Luhanda Leonora Cardoso Monti Sousa

 O conceito de Heart Team consiste na tomada de decisão compartilhada entre especialistas em subáreas da cardiologia clínica, intervencionista e cirúrgica, cujo objetivo é estabelecer o tratamento mais adequado, respeitando as individualidades de cada paciente.

As diretrizes de revascularização na doença arterial coronária crônica (DAC)  advogam que escolha do tratamento ideal na doença coronária crônica seja pautada em critérios de adequabilidade, sob a luz de ensaios clínicos randomizados (ECR’s) e meta-análises robustas. Em grande parte dos casos, é possível estabelecer o tratamento ideal com base nas recomendações de diretrizes. Contudo, reconhecemos a existência de casos não contemplados pelos ensaios clínicos randomizados que guiam a nossa prática, visto os seus rígidos critérios de exclusão. O aumento da expectativa de vida contribui para que o perfil contemporâneo de coronariopatas seja mais complexo e heterogêneo, ao passo que cresce o número de pacientes com uma miríade de comorbidades coexistentes e anatomia complexa.  A utilização de escores de risco como SYNTAX, STS e EuroScore II, podem subsidiar a decisão, mas não devem substituir o julgamento clínico, pois está aquém do ideal. Existem características não contempladas pelos estes escores, tais como fragilidade, risco de sangramento maior e aorta em porcelana. Posto isto, o arsenal terapêutico intervencionista (cirúrgico e percutâneo), foi ampliado, nos trazendo opções com diferentes taxas de risco e benefício.

   Na última década a hemodinâmica se destacou pelo avançando tecnológico exponencial, permitindo diagnósticos mais precisos e angioplastias complexas mais seguras, surgindo o conceito de intervenções coronárias complexas em pacientes de alto risco. Por outro lado, a cirurgia cardíaca avança com a cirurgia minimamente invasiva, guiada por robôs, técnicas no touch e sem circulação extracorpórea (CEC). A terapia híbrida, a qual contempla enxerto da artéria torácica interna para artéria descendente anterior, comumente sem CEC, e angioplastia dos demais vasos estenosados, emerge como possibilidade de uma revascularização completa, visando prognóstico e reduzindo o risco de complicações relacionadas à cirurgia de revascularização miocárdica (CRM) mais extensa e com CEC. O tratamento medicamentoso e o controle rigorosos dos fatores de risco, pedra angular no tratamento da DAC, acompanhou as terapias intervencionistas à altura, reduzindo o risco de eventos e morte de forma dramática e, atualmente poucos são os perfis de pacientes que realmente de beneficiam de intervenção para redução de mortalidade. Em contrapartida, dados mundiais reportam elevada taxa de revascularização percutânea e cirúrgica, inadequadamente indicada e noutras situações subutilizadas, ambas se correlacionando à maior morbi-mortalidade e aumento dos custos ao sistema de saúde. Embora a tomada de decisão por um Heart Team receba recomendação classe I pelas principais diretrizes de revascularização miocárdica, casos complexos ainda carecem de discussão multidisciplinar. Posto isto, a tomada de decisão na era contemporânea se tornou ainda mais desafiadora, fazendo-se necessário o uso racional das novas terapêuticas.

Neste cenário, a avaliação por um Heart Team no manejo da DAC crônica complexa, se faz necessária, à medida que integra ciência à expertise de especialistas, no que chamamos de “o estado da arte” focada no paciente como um todo.

Referências:

  1. Head SJ, Kaul S, Mack MJ, Serruys PW, Tag- gart DP, Holmes DR Jr, et al. The rationale for heart team decision-making for patients with stable, complex coronary artery disease. Eur Heart J. 2013 Aug;34(32):2510–8. https://doi. org/10.1093/eurheartj/eht059
  2. Sousa LLCM, César LAM. Quando e como indicar a revascularização do miocárdio. In: Sociedade Brasileira de Cardiologia; Précoma DB, Freitas Junior AF, Mioto BM, Barros IML, Spineti PPM, organizadores. PROCARDIOL Programa de Atualização em Cardiologia: Ciclo 17. Porto Alegre: Artmed Panamericana; 2023. p. 9–58. (Sistema de Educação Continuada a Distância, v. 2).
  3. Luckraz H, Norell M, Buch M, James R, Cooper G. Structure and functioning of a multidisciplinary ‘Heart Team’ for patients with coronary artery disease: rationale and recommendations from a joint BCS/BCIS/SCTS working group. Eur J Cardiothorac Surg. 2015 Oct;48(4):524-9.
  4. Leonardi S, Capodanno D, Sousa-Uva M, Vrints C, Rex S, Guarracino F, et al. Composition, structure, and function of heart teams: a joint position paper of the ACVC, EAPCI, EACTS, and EACTA focused on the management of patient with complex coronary artery disease requiring myocardial revascularization. Eur J Cardiothorac Surg. 2021 Apr 13;59(3):522-531.
  5. Holmes DR Jr, Rich JB, Zoghbi WA, Mack MJ. The heart team of cardiovascular care. J Am Coll Cardiol. 2013 Mar 5;61(9):903-7.
  6. Salisbury AC, Kirtane AJ, Ali ZA, Grantham JA, Lombardi WL, Yeh RW, et al. OPTIMUM Study Investigators. The Outcomes of Percutaneous RevascularizaTIon for Management of SUrgically Ineligible Patients With Multivessel or Left Main Coronary Artery Disease (OPTIMUM) Registry: Rationale and Design. Cardiovasc Revasc Med. 2022 Aug;41:83-91.
  7. Virani SS, Newby LK, Arnold SV, Bittner V, Brewer LC, Demeter SH, et al. 2023 AHA/ACC/ACCP/ASPC/NLA/PCNA Guideline for the Management of Patients With Chronic Coronary Disease: A Report of the American Heart Association/American College of Cardiology Joint Committee on Clinical Practice Guidelines. Circulation. 2023 Aug 29;148(9):e9-e119.
  8. Neumann FJ, Sousa-Uva M, Ahlsson A, Alfonso F, Banning AP, Benedetto U, et al. 2018 ESC/EACTS guidelines on myocardial revascularization. Eur Heart J. 2019 Jan;40(2):87–165. https://doi. org/10.1093/eurheartj/ehy394
  9. Lawton JS, Tamis-Holland JE, Bangalore S, Bates ER, Beckie TM, Bischoff JM, et al. 2021 ACC/ AHA/SCAI guideline for coronary artery revas- cularization: a report of the American College of Cardiology/American Heart Association Joint Committee on Clinical Practice Guidelines. Cir- culation. 2022 Jan;145(3):e18–114.
  10. WindeckerS,StorteckyS,StefaniniGG,daCosta BR, Rutjes AW, Di Nisio M, et al. Revascularisa- tion versus medical treatment in patients with stable coronary artery disease: network meta- -analysis. BMJ. 2014 Jun;348:g3859. https:// doi.org/10.1136/bmj.g3859 

Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44 | +55 (11) 2661.5310 | contato@triplei.com.br