A relevância do Escore de Wilkins

Lynnie Arouca (@lynniearouca) | Fernanda Castiglioni Tessari | Roney Orismar Sampaio

A valvoplastia mitral percutânea por cateter-balão (VMCB) foi introduzida em 1982 e desde então vem sendo utilizada como uma alternativa à cirurgia valvar mitral para o tratamento da estenose mitral reumática, apresentando resultados bastante satisfatórios em pacientes selecionados. Neste contexto, faz-se necessário o uso de ferramentas para determinar quais pacientes apresentam anatomia favorável ao procedimento. O escore ecocardiográfico de Wilkins é o método mais amplamente utilizado para este fim.

Baseia-se na avaliação de 4 parâmetros ecocardiográficos, sendo eles mobilidade e espessamento dos folhetos, calcificação valvar e acometimento do aparelho subvalvar. Cada parâmetro recebe uma pontuação de 1 a 4 (Tabela 1), de forma que um escore mais elevado denota maior comprometimento valvar.

Assim, quanto maior o escore de Wilkins, menor o sucesso da VMCB (Figura 1). Estudos demonstram que pacientes com escore de Wilkins ≤ 8 apresentam resultados superiores e menor taxa de eventos adversos quando comparados àqueles com escore > 8.

Entretanto, outros fatores além do escore de Wilkins parecem influenciar nos resultados a longo prazo da VMCB, de forma que novas ferramentas estão sendo desenvolvidas para melhor seleção dos pacientes candidatos ao procedimento. Cruz-Gonzales et al. demonstraram alguns preditores independentes de sucesso após a VMCB: idade menor que 55 anos, classe funcional I-II (NYHA), área valvar mitral < 1 cm2, regurgitação mitral ≤ 2+ (graduação de Seller), escore de Wilkins ≤ 8 e sexo masculino, sendo que quanto maior a pontuação, maior a taxa de sucesso da VMCB (Figura 2). Já Nunes et al. avaliou aspectos ecocardiográficos incluindo a razão entre a área comissural e o máximo deslocamento das cúspides durante a diástole e criou um novo escore (Figura 3). Tais ferramentas demonstraram-se mais sensíveis e mais específicas que o escore de Wilkins isoladamente na predição de desfechos a longo prazo após VMCB.

Outro ponto a ser considerado é o risco de insuficiência mitral importante após o procedimento, o que consiste em uma das principais complicações de VMCB e não é adequadamente predito pelo escore de Wilkins. Padial et al. desenvolveu um escore baseado na avaliação da calcificação e espessamento dos folhetos, grau e simetria da fusão comissural e gravidade da doença subvalvar, mostrando-se eficaz para predizer o risco desta complicação.

Vários estudos compararam os resultados da VMCB com a comissurotomia cirúrgica demonstrando que o procedimento percutâneo apresenta bons resultados e deve ser encorajado naqueles pacientes com escore de Wilkins ≤ 8, especialmente na presença de outras características favoráveis, como idade < 45 anos, regurgitação mitral ≤ 2+, ritmo sinusal e ausência de comissurotomia prévia. Por outro lado, naqueles pacientes com escore ≥ 12, os resultados são desfavoráveis e a preferência se dá pelo tratamento cirúrgico da valva mitral. A maior dúvida se mantém naqueles com escore intermediário (entre 9 e 11). Nestes pacientes, especial atenção deve ser dada às variáveis calcificação e doença do aparelho subvalvar: se receberam pontuação maior que 2, a chance de insucesso e/ou eventos adversos é elevada e recomenda-se a troca valvar cirúrgica, enquanto que se o acometimento for predominantemente de mobilidade e/ou espessamento dos folhetos, a abordagem percutânea pode ser considerada, especialmente em gestantes e pacientes de alto risco cirúrgico. Lembrando que a VMCB só pode ser considerada na ausência de contraindicações, que são refluxo mitral maior que discreto ou presença de trombo intracavitário. Assim, embora seja indiscutível a importância da utilização do escore de Wilkins nos pacientes com estenose mitral reumática, novas evidências apontam para a necessidade de utilizarmos outras ferramentas de forma associada a fim de agregar informações prognósticas e permitir uma melhor seleção de pacientes candidatos ao procedimento percutâneo. [/av_textblock] [av_textblock textblock_styling_align='' textblock_styling='' textblock_styling_gap='' textblock_styling_mobile='' size='15' av-desktop-font-size='' av-medium-font-size='' av-small-font-size='' av-mini-font-size='' font_color='' color='' id='' custom_class='' template_class='' av_uid='av-lk8cmms4' sc_version='1.0' admin_preview_bg=''] Referências:

  • Palacios IF. Percutaneous mitral balloon valvuloplasty – state of the art. Mini-invasive Surg 2020;4:73. http://dx.doi.org/10.20517/2574-1225.2020.72

    Nunes MC, Tan TC, Elmariah S, et al. The echo score revisited: Impact of incorporating commissural morphology and leaflet displacement to the prediction of outcome for patients undergoing percutaneous mitral valvuloplasty. Circulation. 2014;129(8):886-895. doi:10.1161/CIRCULATIONAHA.113.001252

    Tarasoutchi F, Montera MW, Ramos AIO, Sampaio RO, Rosa VEE, Accorsi TAD, et al. Atualização das Diretrizes Brasileiras de Valvopatias – 2020. Arq Bras Cardiol. (2020). 115(4):720-775

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