Etiologia e Fisiopatologia da Insuficiência Mitral

Renato Nemoto

Etiologia

A insuficiência mitral (IM) é dividida em:

Primária: quando o problema ocorre nas cúspides, cordoalhas tendíneas, músculos papilares e/ou anel valvar, sendo as principais etiologias o prolapso mitral, doença reumática e degenerativa (MAC – mitral anullus calcification). 

Secundária: decorrente da dilatação atrial e/ou ventricular

A classificação de Carpentier divide as principais causas de IM primária e secundária, como vemos a seguir. 

1) Na IM primária:

– Tipo I: apresenta movimentação e posição normais das cúspides, sendo a regurgitação decorrente de uma perfuração nos folhetos, na maioria das vezes secundária a uma endocardite infecciosa. 

– Tipo II: ocorre por movimento excessivo dos folhetos, sendo o protótipo o prolapso mitral. É uma degeneração mixomatosa das cúspides, com excesso de tecido em um ou mais escalopes das cúspides, ocasionando uma alteração de conformação e movimentação em direção ao átrio esquerdo. As cordoalhas em geral são alongadas, e o anel mais dilatado do que o normal. Quando essa cúspide fica instável, pela ruptura de cordoalhas tendíneas, e ocorre o deslocamento da ponta do folheto em direção ao átrio esquerdo, temos o flail, uma forma mais avançada do prolapso mitral. Quando a degeneração mixomatosa atinge vários segmentos, temos a doença de Barlow, com vários segmentos redundantes, gerando uma válvula por vezes completamente distorcida.

– Tipo IIIA: há uma restrição de mobilidade dos folhetos tanto na sístole quanto na diástole. Ocorre na doença reumática, pela distorção dos folhetos e aparato valvar gerada pelo acometimento reumático, e também na doença degenerativa (calcífica), que quando acomete o anel mitral, é denominada MAC.

2) Na IM secundária:

– Tipo I: envolve a IM atrial, quando a regurgitação é secundária à dilatação do átrio esquerdo (principalmente pela fibrilação atrial) ou pela dilatação ventricular secundária a uma cardiomiopatia não-isquêmica.

– Tipo IIIB: é a IM secundária à dilatação ventricular secundária à miocardiopatia isquêmica.

Outras causas de IM incluem alterações congênitas, como o cleft, e medicamentosa (ergotamina, bromocriptina, cabergolina).

Fisiopatologia

Na IM, o fluxo de sangue que vai do ventrículo esquerdo para o átrio esquerdo na sístole causa uma sobrecarga de volume para o ventrículo esquerdo, átrio esquerdo, capilares pulmonares e assim por diante. Para manter a complacência e acomodar cada vez mais volume, há um aumento dos sarcômeros, ocasionando aumento dos diâmetros do ventrículo esquerdo e, com a evolução, hipertrofia excêntrica. Esse aumento do ventrículo esquerdo inicialmente mantém a fração de ejeção preservada, mas à medida que a doença progride, a tensão na parede do ventrículo esquerdo aumenta, a pós-carga aumenta, e a contratilidade reduz, causando queda na fração de ejeção. 

O átrio esquerdo terá um aumento do seu diâmetro e volume, para aumentar a complacência e redução das pressões pulmonares. Com a progressão da doença e consequente congestão retrógrada, há aumento da pressão arterial pulmonar, podendo causar disfunção das câmaras direitas e insuficiência tricúspide em fases mais avançadas.

Emergências em Valvopatias: Como manejar um paciente com Insuficiência Aórtica no Departamento de Emergência?

Renato Nemoto

Conheça as principais causas, sintomas e tratamentos para a insuficiência aórtica.

A insuficiência aórtica gera uma sobrecarga de volume e pressão no ventrículo esquerdo, causando um remodelamento excêntrico e algum grau de remodelamento concêntrico. Como a insuficiência mitral, pode apresentar a forma crônica ou aguda.

Quando crônica, a principal queixa no departamento de emergência é de insuficiência cardíaca. A congestão deve ser tratada com diureticoterapia e vasodilatação, para redução da pós-carga e da fração regurgitante. O uso de beta-bloqueadores e bloqueadores de canal de cálcio só deve ser realizado em caso de necessidade de controle de uma arritmia, por exemplo a fibrilação atrial, caso contrário, resultará em redução da frequência cardíaca, aumento do volume regurgitante e consequentemente piora dos sintomas. Caso haja evolução para choque cardiogênico, deve-se lançar mão de inotrópicos, vasopressores se necessário, e a principal diferença em relação à IMi é a contraindicação ao uso de Balão intra-aórtico. Esse dispositivo irá aumentar o refluxo aórtico e reduzir o débito cardíaco.

Na IAo aguda, há sobrecarga de volume no ventrículo esquerdo, aumento da PD2 do VE, isso reduz o enchimento ventricular e causa redução do débito cardíaco. Como não há tempo para o remodelamento cardíaco, há pouco complacência e em geral a apresentação é edema agudo de pulmão e choque cardiogênico. As principais causas de IAo aguda são endocardite infecciosa, dissecção de aorta tipo A, ruptura de prótese.

O tratamento definitivo, independente de descompensação aguda ou crônica, é a cirurgia com troca de valva aórtica. Ainda está em estudo e desenvolvimento uma prótese para tratamento percutâneo da insuficiência aórtica.

Referências:

Accorsi, TAD et al. Emergências Relacionadas à Doença Valvar Cardíaca: Uma Revisão Abrangente da Abordagem Inicial no Departamento de Emergência. Arq. bras. cardiol ; 120(5): e20220707, 2023.

 

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