Como definir estenose aórtica baixo-fluxo e baixo-gradiente com fração de ejeção reduzida?

Pamela Cavalcante | Vitor Emer Egypto Rosa

Estenose aórtica importante é definida atualmente por aspectos funcionais e anatômicos avaliados sobretudo pelo ecocardiograma, sendo caracterizada por área valvar menor do que 1cm² e gradiente médio transaórtico acima de 40 mmHg. 1,2

Na prática clínica diária, podemos encontrar inconsistências nessas medidas ecocardiográficas, sendo frequente o número de pacientes com sintomas de estenose aórtica importante e área valvar menor do que 1 cm², porém com gradiente médio transaórtico menor do que 40 mmHg. Neste cenário, podemos estar diante de uma valvopatia moderada ou de uma estenose aórtica anatomicamente importante, denominada baixo-fluxo e baixo-gradiente. 2,3

Ao avaliarmos a função ventricular deste grupo, podemos nos deparar com características distintas. Pacientes com estenose aórtica baixo-fluxo e baixo-gradiente e fração de ejeção acima de 50%, também conhecida como estenose aórtica paradoxal, tem uma fisiopatologia semelhante a da insuficiência cardíaca diastólica com hipertrofia e redução da complacência ventricular esquerda, levando também ao baixo volume ejetado, menor do que 35ml/m². Já nos pacientes com fração de ejeção menor do que 50%, a disfunção sistólica do ventrículo esquerdo pode ser responsável por um baixo volume ejetado, gerando um gradiente baixo. 4

Diferenciar estenose aórtica baixo-fluxo e baixo-gradiente verdadeiramente importante de estenose aórtica moderada (pseudo-importante) pode ser desafiador. A reavaliação das medidas ecocardiográficas é o passo inicial, descartando possíveis erros. Diante de pacientes com estenose aórtica baixo-fluxo e baixo-gradiente, com função ventricular reduzida, o ecocardiograma de stress com dobutamina é recomendado para avaliar a reserva contrátil e confirmar a gravidade da valvopatia.2,3 É considerada estenose aórtica anatomicamente importante, aqueles com reserva contrátil, definida como um aumento de 20% do volume ejetado e/ou aumento em 10 mmHg do gradiente médio, que  apresentarem variação da área valvar menor que 0,3 cm² ou mantiverem seu valor absoluto menor ou igual a 1,0 cm².2,3

A ausência de reserva contrátil pode dificultar a avaliação da estenose aórtica importante. Nesses casos, a avaliação da calcificação valvar tem um papel central, trazendo informações de gravidade anatômica e prognóstica. Entretanto, nenhuma delas deve ser utilizada isoladamente para tomada de decisão terapêutica. Na tomografia computadorizada, o escore de cálcio maior do que 1300 unidades Agatston (u.A) em mulheres e maior do que 2000 u.A em homens é compatível com estenose aórtica anatomicamente importante.

Referências:

1- Tarasoutchi F, Montera M, Grinberg M, Barbosa M, Piñeiro D, Sánchez C et al. Diretriz Brasileira de Valvopatias – SBC 2011/ I Diretriz Interamericana de Valvopatias – SIAC 2011. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 2011;97(5):01-67.

2- Rosa V, Accorsi T, Fernandes J, Lopes A, Sampaio R, Tarasoutchi F. Low-Flow Aortic Stenosis and Reduced Ejection Fraction: New Insights. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 2015;.

3-Clavel M, Magne J, Pibarot P. Low-gradient aortic stenosis. European Heart Journal. 2016;37(34):2645-2657.

4-  Rosa V, Fernandes J, Lopes A, Sampaio R, Tarasoutchi F. Paradoxical Aortic Stenosis: Simplifying the Diagnostic Process. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 2018;

5- Pawade T, Sheth T, Guzzetti E, Dweck M, Clavel M. Why and How to Measure Aortic Valve Calcification in Patients With Aortic Stenosis. JACC: Cardiovascular Imaging. 2019;12(9):1835-1848.

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