Como é o TAVI em Estenose Aórtica Bicúspide?

Pamela Cavalcante | Vitor Emer Egypto Rosa

Nos Trials iniciais que tratavam de TAVI, os pacientes portadores de valva aórtica bicúspide foram excluídos para evitar alguns vieses de seleção, visto serem pacientes com anatomia muitas vezes distorcida.

No entanto, com o avanço da técnica e desenvolvimento de novos dispositivos, passou-se a indicar o procedimento nos pacientes de baixo risco cirúrgico, difundindo a técnica e trazendo uma robusta indicação para os guidelines atuais.

Como a valva aórtica bicúspide é a anomalia congênita mais comum no coração, chegaríamos ao ponto de encontrarmos uma demanda de pacientes com essa condição e que necessitasse de tratamento para uma estenose aórtica. Então veio o questionamento, seria possível utilizar de TAVI nessa coorte?

Uma grande população foi acompanhada após o implante de TAVI nos pacientes portadores de valva aórtica bicúspide encontrando resultados muito semelhantes aos indivíduos com estenose aórtica trivalvar, quando observamos sobrevida em 2 anos.

Como era de se esperar, complicações inerentes a uma anatomia desafiadora foram maiores, chamando a atenção para o subgrupo com rafe e folhetos extremamente calcificados e distorcidos.

Esse tipo de paciente compreendia 25% da amostra e analisando isoladamente esse subgrupo, a mortalidade acabou sendo elevada, o que não se viu avaliando a população como um todo.

Vale ressaltar que os casos sem a formação de rafe, ou seja, valva aórtica bicúspide verdadeira, tiveram excelentes resultados, mostrando ser uma anatomia favorável ao implante percutâneo.

As complicações que ocorreram foram aquelas já esperadas para TAVI: formação de Leak para protético e a temida ruptura de anel aórtico. Provavelmente na busca de uma pós-dilatação para reduzir o refluxo, ocorreram lesões no anel valvar.

Diante do exposto, o TAVI em pacientes com valva aórtica bicúspide é possível e tem bons resultados, mas a avaliação anatômica com tomografia deve ser mais cautelosa para buscarmos encontrar o subgrupo com maior risco de complicações: aqueles com rafes e extensa calcificação. Nesse grupo, uma decisão compartilhada com o cirurgião é o melhor caminho para a decisão da melhor terapêutica.

Referências:

1 – Yoon SH, Kim WK, Dhoble A, et al. Bicuspid Aortic Valve Morphology and Outcomes After Transcatheter Aortic Valve Replacement. J Am Coll Cardiol. 2020 Sep 1;76(9):1018-1030.

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