Emergências em valvopatias: como manejar um paciente com estenose aórtica na emergência?

Dr. Renato Nemoto

A principal causa de atendimento de pacientes valvopatas no Departamento de Emergência é Insuficiência Cardíaca (IC) descompensada. Ela pode ser de instalação progressiva nos casos de valvopatias importantes crônicas ou com surgimento agudo de sintomas, como edema agudo de pulmão e instabilidade hemodinâmica, em casos de valvopatias agudas. Cada valvopatia possui seu mecanismo fisiopatológico, com alterações hemodinâmicas próprias, gerando condutas diferentes de acordo com a valvopatia de base.

A estenose aórtica (EAo) vem tendo um aumento significativo de incidência com o envelhecimento da população, sendo a etiologia degenerativa a mais comum. Nos países subdesenvolvidos, como o Brasil, não podemos esquecer da etiologia reumática.

Os pacientes com EAo importante possuem um débito cardíaco fixo devido à obstrução mecânica gerada pela valvopatia. Dessa forma, a única terapia medicamentosa recomendada para melhora sintomática é a diureticoterapia, e mesmo assim com cautela, uma vez que caso em excesso, pode haver redução do débito cardíaco. Devem-se evitar os betabloqueadores e vasodilatadores, pelo mesmo motivo.

Caso a apresentação seja em choque cardiogênico, algumas precauções devem ser tomadas: evitar fluidoterapia, uma vez que a hipervolemia é praticamente regra nesses pacientes. Vasopressores, como a noradrenalina, possuem as mesmas indicações dos pacientes não valvares, sempre atentando para taquicardia gerada pela mediação, mais uma vez por possibilidade de redução do débito cardíaco. Inotrópicos quando indicados, têm a taquicardia mais uma vez com papel deletério (atenção especial à dobutamina). Ou seja, drogas vasoativas quando necessárias devem ser utilizadas para a compensação hemodinâmica do paciente, mas com cautela. Suporte ventricular com balão intra-aórtico (caso não haja IAo moderada/importante) e ECMO podem ser indicadas também.

Contudo, devemos ter a lembrança de que o problema do paciente é mecânico. Dessa forma, é necessária a correção da estenose. As opções para o tratamento definitivo desses pacientes são as mesmas de uma EAo importante no consultório, incluindo TAVI. Contudo, a morbimortalidade desse perfil de paciente é maior do que quando a correção é realizada de forma eletiva. Em um número considerável de pacientes há a impossibilidade de realização de procedimento cirúrgico ou percutâneo por conta da instabilidade hemodinâmica. Assim, surge destaque para a valvoplastia aórtica por cateter-balão, uma vez que é procedimento menos invasivo, devendo ser utilizado como ponte para estabilização hemodinâmica e possibilidade de tratamento definitivo posteriormente.

Referência

Accorsi, TAD et al. Emergências Relacionadas à Doença Valvar Cardíaca: Uma Revisão Abrangente da Abordagem Inicial no Departamento de Emergência. Arq. bras. cardiol ; 120(5): e20220707, 2023.

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