O papel dos biomarcadores na estenose aórtica

Pamela Nogueira Cavalcante | Vitor Emer Egypto Rosa

Sabemos que os principais determinantes de gravidade da estenose aórtica são os parâmetros ecocardiográficos associados ou não a presença de sintomas. Os biomarcadores são indicadores laboratoriais mensuráveis que podem auxiliar no diagnóstico ou na decisão terapêutica de determinadas doenças. De acordo com as diretrizes atuais, os biomarcadores não devem ser utilizados isoladamente como critério para diagnóstico de estenose aórtica importante ou para indicação de intervenção.

Então, qual seria o papel deles nesse contexto?

Um dos biomarcadores mais estudados em valvopatias é o peptídeo natriurético tipo B (BNP). O principal estímulo para sua liberação na corrente sanguínea é a distensão (stress) das fibras miocárdicas da parede do ventrículo esquerdo, seja por sobrecarga de volume ou de pressão, como no caso da estenose aórtica. Estudos mostram que em pacientes com estenose aórtica, a elevação do BNP se correlaciona com a progressão da doença. Pacientes com estenose aórtica moderada podem ter valores de BNP elevados e o aumento progressivo de seus níveis é proporcional à piora dos parâmetros ecocardiográficos como redução da área valvar e aumento de gradiente transaórtico médio. Além disso, observou-se também que o aumento do BNP pode se correlacionar com o surgimento de sintomas e piora de classe funcional em pacientes mantidos em tratamento conservador. O aparecimento de sintomas na estenose aórtica é um preditor de pior prognóstico e de aumento de mortalidade. O momento ideal de intervir em pacientes com estenose aórtica importante assintomáticos ou oligossintomáticos pode ser desafiador, uma vez que os pacientes podem se auto-limitar e não apresentar a tríade clássica de dispneia, dor torácica e síncope. Para esse grupo de pacientes, o BNP elevado pode exercer um papel fundamental na indicação de intervenção, pois refletiria o momento em que a valvopatia anatomicamente importante leva a repercussão hemodinâmica e ocorre antes do surgimento dos sintomas relacionados à estenose aórtica. O BNP pode ser útil como um dado adicional para tomada de decisão do melhor momento de intervir nesse grupo de pacientes, mas ainda precisamos de novos estudos para usar tal biomarcador de maneira rotineira.

Referência

1- TARASOUTCHI, F. et al. Atualização das Diretrizes Brasileiras de Valvopatias – 2020. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 115, n. 4, p. 720–775, out. 2020.

2- LIM, P. et al. Predictors of outcome in patients with severe aortic stenosis and normal left ventricular function: role of B-type natriuretic peptide. European Heart Journal, v. 25, n. 22, p. 2048–2053, 1 nov. 2004.

3- WEBER, M. et al. Relation of N-terminal pro B-type natriuretic peptide to progression of aortic valve disease. European Heart Journal, v. 26, n. 10, p. 1023–1030, 21 mar. 2005.

4-  NAKATSUMA, K. et al. B-type natriuretic peptide in patients with asymptomatic severe aortic stenosis. Heart, p. heartjnl-2018-313746, 7 dez. 2018.

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