PET-CT e cintilografia com Gálio-67 na Miocardite Reumática

Mariana Pezzute Lopes | Vitor Emer Egypto Rosa

A cardite reumática ocorre em 30-82% dos episódios de febre reumática aguda, apresentando acometimento inflamatório do endocárdio (valvulite), miocárdio e/ou pericárdio. Contudo, menos de 10% dos pacientes apresentam-se com insuficiência cardíaca no primeiro episódio, sendo mais comum nos casos de reativação da febre reumática. A miocardite reumática aguda, em 90% dos casos, é silenciosa e o diagnóstico desafiador, sendo que a cintilografia com Gálio-67 e a tomografia por emissão de pósitron com glicose marcada (18-FDG PET-CT) são ferramentas diagnósticas importantes neste contexto. O envolvimento miocárdico pode ser avaliado por meio da realização do 18F-FDG PET/CT ou da cintilografia cardíaca com gálio-67, os quais detectam atividade inflamatória no músculo cardíaco (Fig A e B).

Estudos que avaliaram o uso de cintilografia com Gálio-67 no diagnóstico desta entidade mostraram uma alta sensibilidade (entre 91 a 100%) e alto valor preditivo positivo. A cintilografia com Gálio permite não só detectar atividade inflamatória de cardite reumática e realizar o diagnóstico, como permite também o acompanhamento terapêutico após o tratamento, sendo sua melhor utilização diagnóstica nos primeiros três meses da apresentação clínica.

O 18-FDG PET-CT é uma nova ferramenta diagnóstica que parece ter menor sensibilidade em relação ao Gálio-67, porém tem alto valor preditivo positivo (próximo de 100%). Dados sobre o uso do PET-CT no contexto de cardite reumática aguda são escassos, sobretudo quando falamos de recorrência de cardite em adultos, sendo a maioria dos estudos com população de crianças, em geral no primeiro surto de febre reumática.

Um trabalho recente publicado pela nossa equipe de valvopatias do Incor, que avaliou 25 pacientes com recorrência de cardite reumática, revelou que a captação na cintilografia com Galio-67 na maioria das vezes é discreta (60% dos casos), em concordância com estudos prévios que demonstraram que a cardite reumática é caracterizada por uma inflamação intersticial com mínimo dano às células miocárdicas, inclusive com baixos valores de troponina. Neste mesmo estudo, a positividade do 18-FDG PET-CT foi de 68,4% enquanto do Galio-67 foi de 95,2%. Assim, principalmente pelo fato de a cardite reumática ser um diagnóstico de exclusão, a positividade de tais exames reafirma o diagnóstico e nos permite o tratamento adequado da cardite com corticoterapia. Outros estudos relacionados ao tema estão em andamento.

Referência

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