Qual a correlação entre Doença Renal Crônica e Estenose Aórtica?
Tiago Bignoto
Muito se discute sobre os fatores de risco para o desenvolvimento da estenose aórtica senil calcifica e os fatores de risco tradicionalmente ligados à doença coronariana se mostraram correlacionados também a calcificação da valva aórtica e suas estruturas adjacentes.
Estágios finais da doença renal, como os pacientes dialíticos tinham essa associação mais clara estabelecida na literatura, mas diversos serviços pesquisadores buscavam um valor de corte para o clearence de creatinina em que o risco de desenvolvimento da estenose aórtica seria clinicamente significativo.
Por se tratar de grupo de pacientes rico em diversas comorbidades, diversos estudos falharam ao demonstrar a correlação clara entre DRC e estenose aórtica, devido ao número de participantes do estudo. Recentemente uma gigante corte do norte europeu, com mais de 1 milhão de pacientes, veio para elucidar os dados entre essas variáveis.
Foi demonstrada correlação inversa entre taxa de filtração glomerular e calcificação da valva aórtica. A novidade desse estudo é trazer a informação que, mesmo diante de pacientes não dialíticos, há piora progressiva do clearence e maior incidência de estenose valvar aórtica. Nessa faixa da doença renal, a correlação era incerta devido aos fatores confundidores citados no parágrafo acima.
Pacientes dialíticos apresentam maior incidência de doença valvar e mais, apresentam maior velocidade de progressão para estenose aórtica grave. Isso foi justificado pela intensa disfunção no metabolismo mineral encontrado nesse grupo de pacientes.
No entanto, alguns dados não foram esclarecidos por esse estudo, como por exemplo, se havia manifestação clínica em algum momento da curva descendente da taxa de filtração. Como não havia dados hemodinâmicos da valva aórtica, não foi possível estabelecer correlação da intensidade tanto da doença renal crônica, quanto da estenose aórtica. Apenas da existência da última em maior prevalência em taxas menores de filtração.
Outra informação ainda obscura na literatura é se a doença renal crônica é capaz de iniciar o processo de calcificação aórtico ou de apenas fazer progredir um processo já iniciado. Como o acompanhamento foi de apenas 5 anos nessa coorte e os dados não deixam claro se alguns indivíduos desenvolvem esclerose valvar nesse período, ainda carecemos dessa informação para melhor compreender a fisiopatologia dessas doenças.
Fica aqui o questionamento: Será que intervir em fases iniciais tanto de doença renal crônica, quanto da estenose aórtica poderia retardar ou interromper a progressão da calcificação valvar? Só outros estudos poderão responder isso…
1 – Vavilis G, Bäck M, Occhino G, et al. Kidney Dysfunction and the Risk of Developing Aortic Stenosis. J Am Coll Cardiol. 2019;73(3):305‐314.
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