Avaliação da Fragilidade no paciente com doença valvar

David Titinger (@davidtitinger

A doença valvar contribui com importante parcela das internações hospitalares, podendo evoluir para insuficiência cardíaca e óbito. Quando a valvopatia se torna anatomicamente importante e com repercussão clínica, apenas o tratamento intervencionista (cirurgia convencional ou transcateter) é capaz de mudar a história natural da doença. A escolha da intervenção leva a necessidade de avaliação individualizada do paciente, expondo condições clínicas associadas que podem impactar no prognóstico, como é o caso da fragilidade.

A fragilidade caracteriza-se pela diminuição de reserva fisiológica e redução da capacidade frente a estressores, causando vulnerabilidade a doenças. Está relacionada à diminuição de força muscular, resistência e funcionalidade, resultando em maior dependência para atividades cotidianas e aumento da mortalidade.

Os escores tradicionais de avaliação de risco pré-operatórios, EuroSCORE II e STS, não são capazes de apreciar de forma adequada a fragilidade, por vezes estimando de forma errônea os desfechos cardiovasculares nos pacientes frágeis, como mortalidade intra-hospitalar, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral, insuficiência renal e sangramentos maiores. Devemos evitar mensurações como: “gait speed” e “eye ball test”, por não serem capazes de oferecer correta avaliação.

Dispomos de diversos escores de fragilidade na literatura, entre eles temos o Katz ScaleThe Fried ScaleThe Rockwood Clinical Frailty Scale (CFS) e Short Physical Performance Battery (SPPB). Entretanto, nenhum desses foi desenvolvido a partir de um estudo populacional com enfoque na doença valvar.

Destaque ao Essential Frailty Toolset (EFT), por ter sido desenvolvido a partir de um estudo de coorte prospectivo, multicêntrico (14 centros dos EUA, Canadá e França), com pacientes acima de 70 anos, submetidos à intervenção da valva aórtica por cirurgia ou TAVI (implante de bioprótese aórtica transcateter, do inglês transcatether aortic valve implantation). Esse escore consiste na avaliação de 4 domínios para pontuação: levantar-se 5 vezes de uma posição sentada sem auxílio dos membros superiores, estado cognitivo (utiliza-se o Mini-Mental State Examinatiom), valor sérico de hemoglobina e nível sérico de albumina. A pontuação varia de 0 a 5, sendo quanto mais próximo de 5, maior grau de impacto pela fragilidade. É um escore de uso simples, rápida execução e que não necessita de equipamentos especializados para sua realização. Foi validado para predizer o risco de mortalidade em 1 ano e disfunção ventricular após intervenção da valva aórtica. Um paciente com EFT próximo a 5 têm maior risco presumido de desenvolver eventos cardiovasculares após intervenção valvar, mas isso não quer dizer que decidir pela intervenção seja equivocado ou deletério ao paciente.

Ainda carecemos de mais estudos para compreensão do impacto da fragilidade nos pacientes com doença valvar, sua interação com o desenvolvimento de insuficiência cardíaca ou piora do quadro clínico.

Referências:

  • – Tarasoutchi, F. et al. Atualização das Diretrizes Brasileiras de Valvopatias – 2020. Arq. Bras. Cardiol. 115, 720–775 (2020).

    – Afilalo, J. et al. Frailty in Older Adults Undergoing Aortic Valve Replacement: The FRAILTY-AVR Study. J. Am. Coll. Cardiol. 70, 689–700 (2017).

    – Pavone, N. et al. The ‘Heart Valve Clinic’ Pathway for the Management of Frail Patients with Valvular Heart Disease: From ‘One for All’ to ‘All for One’. Crit. Pathw. Cardiol. 18, 61–65 (2019).

    – Veronese, N. et al. Frailty and Risk of Cardiovascular Diseases in Older Persons: The Age, Gene/Environment Susceptibility-Reykjavik Study. Rejuvenation Res. 20, 517–524 (2017).

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