Avaliação do risco cirúrgico na doença valvar

Ranna Santos Pessoa | Flávio Tarasoutchi

A avaliação do risco cirúrgico é imperativa antes de programar uma intervenção cirúrgica valvar. A intenção principal desta avaliação é informar ao paciente e aos familiares as opções de tratamento, e compartilhar a tomada de decisão.

A avaliação pré operatória deve incluir o diagnóstico anatômico a graduação da gravidade. Ao indicar a intervenção, estamos admitindo que o risco de permanecer com a doença valvar é maior do que o risco atribuído ao procedimento, e isso deve ser esclarecido para o paciente. Os exames complementares, são fundamentais para esse passo, e para determinação da etiologia.

No consultório, a avaliação clínica do risco é ampla e inclui dados como idade, sintomas, status nutricional, funcionalidade, grau de fragilidade, capacidade cognitiva, depressão, tabagismo, etilismo e comorbidades que agreguem ao risco do procedimento. Entre as comorbidades que agregam risco temos: diabetes mellitus, hipertensão arterial sistêmica, hipertensão pulmonar, infarto agudo do miocárdio prévio, disfunção ventricular, e outras valvopatias concomitantes.

É necessário também avaliar se a indicação do tratamento não é fútil, estimando se a sobrevida é maior que um ano, baseado em comorbidades que limitem a sobrevida, como câncer ativo, sequelas graves de acidentes isquêmicos, entre outras.

A avaliação de fragilidade é feita através de ferramentas que incluem velocidade de marcha, força de preensão palmar, nível de albumina sérica, atividades de vida diária, antecedentes de queda, sarcopenia e cognição.

Outro ponto importante são os impedimentos específicos para cada tipo de abordagem; como aorta em porcelana, que é um limitador para cirurgia convencional, pela dificuldade do implante de circulação extracorpórea, e a estenose de artérias femorais é um limitante para o implante transfemoral de TAVI.

Os scores de risco como STS e EuroScore são formas de prever probabilidades e dar um número ao paciente e ao cirurgião. A criação desses scores visa padronizar a avaliação de risco, e é baseada em estudos populacionais, nos quais são extraídos fatores associados a um maior risco de desfecho desfavorável através de modelos de regressão logística multivariada.

As limitações incluem o fato de serem baseados em uma população específica, na qual foi desenvolvido, e limitada para o tipo de intervenção estudada. Sendo utilizado na prática por extrapolação, em um universo maior de pacientes. O escore que possui mais variáveis a ser avaliadas, se torna mais completo e fidedigno, no entanto, se torna de aplicação pouco prática.

O Escore de risco da Sociedade dos cirurgiões torácicos (STS), e o Sistema Europeu para avaliação do risco da cirurgia cardíaca (EuroSCORE) são os modelos mais comumente usados para procedimentos valvares cirúrgicos e transcateter.

O STS risk model foi desenvolvido baseado na população dos Estados Unidos, utilizando dados de mais de 67000 pacientes submetidos a cirurgia de troca valvar aórtica isolada. Foram encontradas 24 variáveis preditoras de mortalidade em 30 dias. Recentemente passou por uma atualização e inclui riscos como exposição prévia à radiação, doença hepática, fragilidade pela velocidade de marcha, que não estão incluídos em outros escores até o momento.

O EuroSCORE logístico é derivado de informações de 8 países europeus, quase 15.000 pacientes e todos os tipos de cirurgia cardíaca. É uma ferramenta de fácil aplicação, com 18 informações necessárias para preenchimento. Como foi feito em 1995 (há mais de 20 anos), passou por atualização no atual EuroSCORE 2. O estudo que baseou o EuroSCORE 2 incluiu mais de 22000 pacientes em 2010 em 43 países. Foram incluídos todos os tipos de cirurgia cardíaca e possui 18 variáveis preditivas de mortalidade em cirurgia valvar. O EuroSCORE 3 já está em desenvolvimento e pretende reduzir ainda mais as limitações.

Na prática, a avaliação de risco inclui muitas variáveis, e deve ser feita de forma integrativa, avaliando o paciente como um todo. O Heart Team é uma ferramenta a ser utilizada para auxiliar na tomada de decisão.

Referências:

  • 1. Shahian DM, He X, Jacobs JP, Rankin JS, Welke KF, Filardo G, et al. The Society of Thoracic Surgeons Isolated Aortic Valve Replacement (AVR) Composite Score: A Report of the STS Quality Measurement Task Force. The Annals of Thoracic Surgery 2012;94:2166–71.

    2. Rankin JS, He X, O’Brien SM, Jacobs JP, Welke KF, Filardo G, et al. The Society of Thoracic Surgeons Risk Model for Operative Mortality After Multiple Valve Surgery. The Annals of Thoracic Surgery 2013;95:1484–90.

    3. O’Brien SM, Shahian DM, Filardo G, Ferraris VA, Haan CK, Rich JB, et al. The Society of Thoracic Surgeons 2008 Cardiac Surgery Risk Models: Part 2—Isolated Valve Surgery. The Annals of Thoracic Surgery 2009;88:S23–42.

    4. Nashef SAM, Roques F, Sharples LD, Nilsson J, Smith C, Goldstone AR, et al. EuroSCORE II. European Journal of Cardio-Thoracic Surgery 2012;41:734–45. 5. S.A.M. Nashef, F. Roques, P. Michel, E. Gauducheau, S. Lemeshow, R. Salamon, et al. European system for cardiac operative risk evaluation (EuroSCORE). European Journal of Cardio-thoracic Surgery 16 (1999) 9±13.

    6. F. Roques*, S.A.M. Nashef, P. Michel, E. Gauducheau, C. de Vincentiis, E. Baudet, J. Cortina, M. David, A. Faichney, F. Gabrielle, E. Gams, A. Harjula, M.T. Jones, P. Pinna Pintor, R. Salamon, L. Thulin, et al. Risk factors and outcome in European cardiac surgery: analysis of the EuroSCORE multinational database of 19030 patients. European Journal of Cardio-thoracic Surgery 15 (1999) 816±823.

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