Cateterismo cardíaco na estenose mitral: o que avaliar (Parte 1)
Daniella Cian Nazzetta | Vitor Emer Egypto Rosa
A estenose mitral é uma doença caracterizada por uma restrição na abertura da valva mitral levando ao aumento da resistência do fluxo sanguíneo através do átrio para o ventrículo esquerdo. O ecocardiograma é o exame padrão-ouro para avaliarmos valvopatias, e definimos como estenose mitral importante quando temos uma área valvar mitral < 1,5 cm2 e/ou um gradiente diastólico médio transmitral ≥ 10mmHg.
Em algumas situações podemos ter uma discrepância entre ecocardiograma e o quadro clínico do paciente, onde temos um indivíduo com sintomas clássicos como: dispneia aos esforços, ortopneia, dispneia paroxística noturna, porém ao exame ecocardiográfico não temos uma definição de gravidade da valvopatia pelos critérios acima mencionados. Isso pode ocorrer devido à natureza anatômica da valva mitral, que pelo seu formato dificulta as medidas através do exame, por se tratar de um exame operador dependente e também pelo estado hemodinâmico do paciente, que pode encontrar-se com pressões de enchimento normais em repouso. Nesses casos pode-se indicar a realização de estudo hemodinâmico invasivo para definição de gravidade anatômica da estenose mitral. Através desse exame, a magnitude do gradiente de pressão pode ser suficiente para distinguir estenose valvar clinicamente significativa da não significativa.
O cateterismo de câmaras direitas é realizado através de um acesso venoso central (jugulares ou femorais, principalmente) e a utilização do cateter de Swan-Ganz. Permite, dentre outras medidas, a realização de medidas de pressões intracavitárias (átrio e ventrículo direitos), de pressões do tronco ou das artérias pulmonares e a pressão capilar pulmonar encunhada. Além disso, permite a determinação do débito cardíaco e o rastreio para shunts intracardíacos. Utilizando as medidas acima descritas, pode-se obter, através de cálculo em fórmulas específicas, os gradientes de pressões transvalvares, gradiente transpulmonar e a resistência vascular pulmonar.
Em pacientes com estenose mitral, o meio mais preciso de determinação do gradiente valvar é através da medida direta da pressão atrial esquerda através da punção transeptal. Porém, a fim de se evitar a punção, a pressão capilar pulmonar encunhada geralmente substitui a medida direta de pressão atrial esquerda, e também é mais facilmente avaliada. Para obtermos as pressões intracavitárias do ventrículo esquerdo, é necessária uma punção arterial e o posicionamento do cateter de pigtail no ventrículo esquerdo, ultrapassando a valva aórtica. Essa etapa do procedimento deve ser levada em consideração e ponderar o risco ao solicitar tal exame pois, diferentemente do cateterismo de câmaras direitas isolado, por necessitar ultrapassar a valva aórtica devemos nos atentar sobre a presença de valva protética em posição aórtica, trombos intraventriculares esquerdos e vegetações valvares.
Referências:
- 1- Tarasoutchi F, Montera MW, Ramos AIO, et al. Update of the Brazilian Guidelines for Valvular Heart Disease – 2020. Atualização das Diretrizes Brasileiras de Valvopatias – 2020. Arq Bras Cardiol. 2020;115(4):720-775. doi:10.36660/abc.20201047
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2- Vahanian A, Beyersdorf F, Praz F, et al. 2021 ESC/EACTS Guidelines for the management of valvular heart disease. EuroIntervention. 2022;17(14):e1126-e1196. Published 2022 Feb 4. doi:10.4244/EIJ-E-21-00009
3- Cardiovascular Hemodynamics for the Clinician; George A. Stouffer. Chapel Hill, NC: Blackwell Futura. 1st edition, Ch. 9.
4- Mann DL, Zipes DP, Libby P, Bonow RO, Braunwald E. Braunwald: tratado de doenças cardiovasculares. InBraunwald: Tratado de doenças cardiovasculares 2018 (pp. 1224-1224).
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