É possível usar a angiografia com CO2 para o planejamento de implante percutâneo de prótese aórtica?

Mauricio Felippi de Sá Marchi

O dióxido de carbono (CO2) é um composto químico produzido no ciclo carbônico que se apresenta como gás em condições atmosféricas. Sua utilização como meio de contraste data desde a década de 1920 e, após o desenvolvimento de técnicas de imagem mais modernas com subtração digital, observou-se um ressurgimento dessa utilização a partir de 1980. O CO2 é o único agente de contraste comprovadamente seguro em pacientes com insuficiência renal e hipersensibilidade alérgica ao contraste iodado.

Atualmente, o CO2 é utilizado como um agente de contraste nas circulações arterial e venosa para diferentes indicações, especialmente pela cirurgia vascular e radiologia intervencionista. Em virtude de sua potencial neurotoxicidade e arritmia cardíaca, o CO2 não deve ser usado na aorta torácica, nas artérias coronárias e na circulação cerebral. Essa informação é respaldada por estudos em animais que demonstraram impacto negativo na função ventricular esquerda após injeção intracoronária de CO2.

Uma potencial área de aplicação do CO2 como agente contrastado é a avaliação de vias periféricas no planejamento do implante percutâneo da válvula aórtica (TAVI). Esse procedimento está em franca expansão mundialmente em virtude do aumento na prevalência da estenose aórtica secundário ao envelhecimento populacional. Frequentemente os pacientes submetidos a TAVI apresentam disfunção renal, sendo imperativa a minimização da utilização de agentes nefrotóxicos, como a emprego intravascular de contraste iodado.

Desse modo, a principal vantagem do CO2 como agente contrastado é sua segurança em pacientes com insuficiência renal e seu perfil de segurança nos casos de alergia à contraste, sendo, portanto, uma alternativa segura nesse perfil de doentes. Outra vantagem significativa do CO2 é a sua baixa viscosidade em comparação com o contraste tradicional. Isso permite que o gás seja injetado através de qualquer cateter pré-moldado ou até mesmo um microcateter com diâmetro reduzido. Em nossa instituição costumamos usar um cateter pig-tail para avaliação das artérias femorais, embora esse tipo de cateter não seja obrigatório. A principal desvantagem da utilização de CO2 é a de requerer um sistema específico que permita a compressão gasosa e que previna a contaminação do gás com o ar.

Para obtenção adequada de imagens, a injeção do gás deve ser programada de modo a ser ligeiramente superior à velocidade de fluxo do sangue. Uma injeção muito devagar pode ser incapaz de preencher adequadamente o espaço intraluminal, ao passo que uma injeção muito rápida pode levar a perda do gás por refluxo aórtico e extravasamento para ramos aórticos.

A obtenção das imagens por meio do CO2 ocorre pelo deslocamento do sangue provocado pelo gás, ao passo que o contraste se mistura com o sangue. Uma vez que o CO2 é eliminado pelos pulmões, volumes ilimitados de gás podem ser usados, respeitando um tempo de 2 a 3 minutos entre as injeções.

Apesar da diferença na propriedade física entre o CO2 e o meio de contraste líquido tradicional, as arteriografias produzidas por CO2 são bastante comparáveis às imagens obtidas com utilização de contraste, com um perfil de segurança melhor. Com a disponibilidade de subtração de imagem digital de alta resolução e um sistema de entrega de gás confiável, o CO2 se tornou um agente viável para obtenção de imagens angiográficas.

Referências

1. Sharafuddin MJ, Marjan AE. Current status of carbon dioxide angiography. Journal of Vascular Surgery. agosto de 2017;66(2):618–37.

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