Endocardite Infecciosa: Espectros clínicos e gravidade

Tiago Bignoto |

A endocardite infecciosa é uma doença rara e grave, com complicações sérias, e que deve, na maioria das vezes, ser abordada como uma síndrome. Apesar do avanço tecnológico e da tendência a intervenções cirúrgicas cada vez mais precoces, não houve uma grande redução nos desfechos clínicos, especialmente na mortalidade quando são observados os últimos 20 anos.

Boa parte da literatura atual reforça a importância de diagnósticos e intervenções precoces nesse amplo espectro de pacientes. A mudança epidemiológica dos pacientes ao longo dos anos é fundamental para uma leitura ampla do manejo da endocardite infecciosa contemporânea e deve sempre ser interpretada lado a lado com os serviços de infectologia.

Os pacientes com endocardite infecciosa de hoje em dia são mais idosos, com múltiplas comorbidades e clinicamente mais instáveis. A mudança do perfil clínico epidemiológico e das cepas microbiológicas envolvidas está intimamente relacionada ao perfil do paciente. O Staphylococcus tornou-se o agente causador mais prevalente da endocardite infecciosa, quando falamos de pacientes mais graves ou institucionalizados, ou seja, os casos não comunitários.

As mudanças no manejo da profilaxia antibiótica para prevenção da endocardite infecciosa também podem ter impactado essa evolução ao longo dos últimos 30 anos. Um diagnóstico rápido e preciso é o primeiro passo para oferecer ao paciente a chance de uma intervenção mais assertiva e no momento certo.

A apresentação clínica é diversa, indo desde quadros sépticos graves até síndromes de febre de origem indeterminada que se confundem até mesmo com neoplasias hematológicas, ou mesmo manifestações puramente cardiovasculares como insuficiência cardíaca.

A própria insuficiência cardíaca congestiva é a principal comorbidade associada aos pacientes acompanhados, o que pode trazer uma confusão clínica e um desafio diagnóstico ainda mais complexo. O tratamento cirúrgico tem papel crescente e decisivo em grupos de pacientes mais graves, embora o simples fato da abordagem invasiva traga risco algumas vezes perigosas para a evolução clínica.

O entendimento clínico e diagnóstico desses pacientes proporcionará ao cardiologista a chance de transformar esses grandes desafios em estratégias seguras para as melhores respostas terapêuticas na endocardite infecciosa. A prevenção é a melhor estratégia a ser empregada, mas uma vez diante da possibilidade de diagnóstico, a rápida identificação e uma terapia individualizada parecem ser a melhor estratégia para reduzir as complicações.

Referência

1 – Cahill TJ, Prendergast BD. Infective endocarditis. Lancet 2016;387:882–93.

Av. Dr. Enéas de Carvalho Aguiar, 44 | +55 (11) 2661.5310 | contato@triplei.com.br