Existe diferença na evolução da estenose aórtica entre homens e mulheres?

Pâmela Cavalcante

O gênero é uma variável biológica importante na fisiopatologia das doenças cardiovasculares. De fato, ele pode determinar grandes diferenças na manifestação, tratamento e evolução de diversas cardiopatias, como na doença arterial coronariana e na insuficiência cardíaca. Na estenose aórtica (EAo), existem fatores ligados ao sexo que estão relacionados com sua patogênese e que influenciam nas alterações hemodinâmicas resultantes da resposta à sobrecarga pressórica e devem ser considerados no tratamento.

As principais diferenças já se mostram desde a apresentação da doença: mulheres são frequentemente mais velhas e têm maior prevalência de hipertensão arterial sistêmica e disfunção ventricular diastólica do que os homens, no momento do diagnóstico. Na evolução da EAo degenerativa, as mulheres fazem mais hipertrofia ventricular concêntrica e gradientes transaórticos mais altos, quando comparadas aos homens, que apresentam mais hipertrofia excêntrica. Para um determinado grau de gravidade da EAo, as mulheres têm menos calcificação valvar, com mais fibrose e tecido conjuntivo mais denso do que os homens, que habitualmente apresentam válvulas mais calcificadas. Este contraste pode ter um valor prognóstico significativo uma vez que o nível de calcificação valvar é um preditor independente da progressão da doença, especialmente em indivíduos assintomáticos e pode ser usado para indicação de intervenção.

Além disso, é importante observar que as mulheres podem apresentar sintomas mais leves e muitas vezes auto-limitados pela fragilidade, o que retarda a indicação de intervenção. De fato, historicamente, as mulheres com EAo grave são menos encaminhadas para troca cirúrgica, que é menos realizada nesse gênero em relação aos homens. Essa discrepância pode estar associada à maior mortalidade pós-operatória, à maior fragilidade e ao risco elevado de mismatch de prótese, devido aos tamanhos anulares menores encontrados no sexo feminino. No entanto, com o surgimento da TAVI, essa disparidade diminuiu, com maior representação de mulheres na utilização desse procedimento nos principais estudos, se igualando aos homens. Apesar de existirem, estas diferenças ligadas ao sexo na estenose aórtica muitas vezes não são totalmente reconhecidas e compreendidas, levando a desigualdade no tratamento, sobretudo de mulheres. Mais estudos com foco nessas diferenças são necessários para o melhor entendimento destes mecanismos e para aumentar a equidade no tratamento e nos resultados da abordagem da estenose aórtica no sexo feminino.

Referências

  • HAHN, R. T. et al. Sex-Related Factors in Valvular Heart Disease. Journal of the American College of Cardiology, v. 79, n. 15, p. 1506–1518, abr. 2022.
  • SHAN, Y.; PELLIKKA, P. A. Aortic stenosis in women. Heart, v. 106, n. 13, p. 970–976, 1 jul. 2020.
  • SAEED, S.; DWECK, M. R.; CHAMBERS, J. Sex differences in aortic stenosis: from pathophysiology to treatment. Expert Review of Cardiovascular Therapy, v. 18, n. 2, p. 65–76, 1 fev. 2020.

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