O que é Mismatch de prótese em posição aórtica e qual sua implicação clínica?

Livia Santos Silva | Ranna Santos Pessoa | Roney Orismar Sampaio

Em 1978, Rahimtoola, pela primeira vez, descreveu que o Mismatch de prótese aórtica está presente quando a área de orifício efetiva da prótese valvar inserida no paciente é menor do que a de uma valva normofuncionante nativa [1].

Atualmente chamada de desproporção prótese-paciente (DPP), o Mismatch de prótese aórtica é considerada uma disfunção prostética não estrutural, e sim uma anormalidade hemodinâmica funcional. A DPP é caracterizada por uma prótese de componentes finos e móveis, sem sinais de degeneração, mas que possuem uma área do orifício efetiva calculada pequena para a superfície corpórea do paciente [2,3].

A DPP pode ser graduada a depender a área de orifício efetiva indexada (AOEi), em importante quando AOEi < 0,65 cm²/m², moderado quando entre 0,65 e 0,85 cm²/m² e leve ou discreto quando AOEi > 0,85 cm²/m².  A incidência pode chegar a leve em até 70%, moderada em até 46,8% e importante em até 20% dos casos. [2-5].

Menores valores da AOE em relação a área de superfície corpórea do paciente resultará em gradientes pressóricos transvalvares mais altos, o que pode ser explicado pela equação hidráulica de Gorlin: GPT = Q²/ [k x AOE²], onde K é uma constante. Nesta equação o gradiente de pressão transvalvar (GPT) está diretamente relacionado com o quadrado do fluxo transvalvar (Q) e inversamente proporcional ao quadrado da AOE [2, 3].

Existem alguns fatores relacionados ao risco de desenvolvimento do MPA, são eles: uso de próteses menores, idade avançada,  maior superfície corporal, estenose aórtica degenerativa no pré-operatório, entre outros [2].

A permanência do gradiente elevado no período pós-operatório, impede o alívio da pós-carga que é esperado ao implantar uma prótese normofuncionante. Em curto prazo, há regressão de 23% da massa ventricular nos pacientes sem DPP, enquanto apenas 4,5% da massa ventricular esquerda regride nos pacientes com DPP [2]. Em longo prazo, o gradiente elevado se correlaciona com sobrecarga ventricular esquerda, piora da função hemodinâmica, hipertrofia ventricular esquerda, piora da capacidade física, maior incidência de eventos cardiovasculares e menor sobrevida [3].

Tendo em vista que a hipertrofia ventricular esquerda é  estabelecida como importante fator de risco e preditor de sobrevida, além de ser determinante na função sistólica, diastólica e na capacidade de exercício o Mismatch influi nesses riscos [2]. Sendo assim, é possível que os pacientes persistem com sintomas, semelhante ao período pré-operatório, a despeito do implante de uma prótese normofuncionante, com internações mais frequentes, baixa capacidade física e maiores taxas de mortalidade tardia [2].

Referências

[1] Rahimtoola SH. The problem of valve prosthesis-patient mismatch. Circulation. 1978;58(1):20‐24. https://doi.org/10.1161/01.cir.58.1.20.

[2] Pibarot P, Dumesnil JG. Hemodynamic and clinical impact of prosthesis–patient mismatch in the aortic valve position and its prevention. Journal of the American College of Cardiology 2000;36:1131–41. https://doi.org/10.1016/s0735-1097(00)00859-7

[3] Pibarot P. Prosthesis-patient mismatch: definition, clinical impact, and prevention. Heart 2006;92:1022–9. https://doi.org/10.1136/hrt.2005.067363.

[4] Bilkhu R, Jahangiri M, Otto CM. Patient-prosthesis mismatch following aortic valve replacement. Heart 2019;105: 28–33. https://doi.org/10.1136/heartjnl-2018-313515

[5] Rayol S da C, Sá MPBO, Cavalcanti LRP, Saragiotto FAS, Diniz RGS, Sá FBC de A e, et al. Prosthesis-Patient Mismatch after Surgical Aortic Valve Replacement: Neither Uncommon nor Harmless. Braz J Cardiovasc Surg 2019;34. https://doi.org/10.21470/1678-9741-2019-0008.

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