Semiologia da Estenose Mitral

Daniella Cian Nazzetta | Mariana Pezzute Lopes

Na estenose mitral ocorre restrição da abertura da valva mitral levando a dificuldade no esvaziamento de sangue do átrio esquerdo para o ventrículo esquerdo. Pode ocorrer devido a várias etiologias, porém a principal delas ainda é a febre reumática, sendo responsável por mais de 90% dos casos.

O exame físico é o primeiro passo na avaliação do paciente com diagnóstico de estenose mitral. Na inspeção, alguns pacientes podem apresentar fácies mitralis, uma alteração caracterizada pela hiperemia crônica dos maxilares, com ou sem teleangiectasias, justificada pela hipertensão venosa cefálica causada pela valvopatia. Podemos também notar na região jugular um pulso venoso com onda A mais exuberante nos pacientes que encontram-se em ritmo sinusal e que possuem hipertensão pulmonar e sobrecarga de ventrículo direito.

A palpação do coração deve ser realizada, e em alguns casos quando colocamos o paciente em decúbito lateral esquerdo, um frêmito diastólico pode ser palpável no ápice, principalmente em indivíduos mais magros. Nos pacientes que possuem hipertensão pulmonar, pode-se palpar o ventrículo direito na região paraesternal esquerda.

O sopro da estenose mitral nem sempre é facilmente identificado, nestes casos podemos lançar mão de algumas manobras para auxiliar na ausculta cardíaca, como por exemplo: usar a campânula do estetoscópio, posicionar o paciente em decúbito lateral esquerdo (decúbito de Pachon) e também solicitar que ele se exercite logo antes da ausculta, isso irá promover um aumento do fluxo transmitral, facilitando desta forma a identificação do sopro diastólico.

Uma das características auscultatórias da estenose mitral é a hiperfonese da primeira bulha cardíaca (B1), quando os folhetos ainda são flexíveis e possuem boa amplitude de movimento. Em fases mais tardias, quando muito calcificados ou quando ocorre rotura de cordas tendíneas a B1 pode apresentar hipofonese, configurando assim um sinal de gravidade. Quanto à segunda bulha cardíaca (B2), se hiperfonética, indica a presença de hipertensão pulmonar.

A presença do estalido de abertura, que é  provocado pela tensão dos folhetos valvares quando estes se movimentam em direção ao ventrículo esquerdo, indica que a origem da estenose mitral é reumática. Quanto mais precoce o estalido, maior a gravidade anatômica da valvopatia. Da mesma forma, quanto mais longa a duração do ruflar, maior a gravidade da estenose mitral.

Outro achado de ausculta seria a presença de um reforço pré-sistólico nos pacientes que encontram-se em ritmo sinusal. Isso corresponde ao fluxo de sangue do átrio para o ventrículo esquerdo provocado pela contração atrial na fase final da diástole. Essa condição pode ser difícil de ser identificada já que grande parte dos pacientes portadores de estenose mitral possuem fibrilação atrial.

Outra alteração importante que pode ser encontrada é a presença de um sopro holossistólico de insuficiência tricúspide secundária. Essa alteração ocorre em geral na presença de hipertensão pulmonar e pode mimetizar a presença de insuficiência mitral associada. Para elucidação diagnóstica, é realizada a Manobra de Rivero-Carvallo, que consiste em solicitar ao paciente que inspire profundamente e segure por alguns segundos, será gerado um aumento da intensidade do sopro tricúspide, assim como a presença de onda V no pulso jugular mais expressiva, confirmando assim que a alteração auscultatória é decorrente da insuficiência tricúspide.

Concluindo, o exame físico do paciente portador de estenose mitral é bastante rico e possui características específicas, fazendo da inspeção, palpação e ausculta etapas imprescindíveis para uma boa avaliação e diagnóstico preciso.

Referência

1- Tarasoutchi F, Montera MW, Ramos AIO, et al. Update of the Brazilian Guidelines for Valvular Heart Disease – 2020. Atualização das Diretrizes Brasileiras de Valvopatias – 2020. Arq Bras Cardiol. 2020;115(4):720-775. doi:10.36660/abc.20201047

2- Vahanian A, Beyersdorf F, Praz F, et al. 2021 ESC/EACTS Guidelines for the management of valvular heart disease. EuroIntervention. 2022;17(14):e1126-e1196. Published 2022 Feb 4. doi:10.4244/EIJ-E-21-00009

3- Mann DL, Zipes DP, Libby P, Bonow RO, Braunwald E. Braunwald: tratado de doenças cardiovasculares. InBraunwald: Tratado de doenças cardiovasculares 2018 (pp. 1224-1224).

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