Semiologia da Insuficiência Aórtica
Daniella Cian Nazzetta | Vitor Emer Egypto Rosa
A insuficiência aórtica é uma condição cardíaca em que a válvula aórtica não se fecha adequadamente, permitindo que o sangue retorne ao ventrículo, gerando sobrecarga de volume e pressão. O exame físico é bastante rico em alguns casos, podendo o paciente apresentar diversas alterações sugestivas dessa valvopatia.
Primeiramente, você poderá perceber à palpação um pulso em martelo d’água ou também chamado de pulso de Corrigan, que tem alta amplitude, rápida ascensão e diminuição abrupta. Ao aferir os dados vitais, podemos ter a presença de uma pressão arterial divergente, com uma pressão sistólica bem maior do que a diastólica. Essas alterações ocorrem devido ao pico sistólico aumentado na fase de ejeção rápida causando pelo hiperfluxo sanguíneo, e uma queda repentina da pressão durante a diástole decorrente da incompetência da valva. O ictus cordis pode estar deslocado para esquerda e para baixo devido a presença de hipertrofia excêntrica.
Seguindo o exame físico, à ausculta geralmente temos a presença de um sopro diastólico aspirativo decrescente, localizado em foco aórtico e/ou foco aórtico acessório, com uma segunda bulha hipofonética. Nesse caso, sopro holodiastólico denota gravidade anatômica. Em alguns casos, podemos também auscultar um sopro mesossistólico, chamado de sopro de hiperfluxo, causado pelo fluxo turbulento de sangue regurgitado durante a sístole. Ainda na ausculta, o paciente pode apresentar o chamado sopro de Austin-Flint, causado pelo jato da insuficiência aórtica que não permite a abertura valvar mitral, gerando sopro diastólico em ruflar, no foco mitral, parecido com o sopro de estenose mitral.
Além dessas alterações o paciente pode apresentar sinais clínicos típicos de aumento de pressão de pulso. Informalmente, devido esses sinais que serão descritos abaixo, podemos dizer que o paciente portador de insuficiência aórtica é o “paciente que pulsa”. São sinais que normalmente são difíceis de identificar ao exame físico, porém quando presentes, são típicos de insuficiência aórtica importante.
- Sinal de Musset: movimentos involuntários da cabeça sincrônico com os batimentos cardíacos;
- Dança das artérias: pulsação sincronizada dos vasos sanguíneos do pescoço devido o aumento de fluxo sanguíneo na diástole causando a dilatação das artérias e posterior contração;
- Sinal de Muller: pulsação sistólica da úvula;
- Sinal de Quincke: pulsação do leito ungueal que pode ser percebida pressionando levemente a ponta do dedo do paciente sob uma fonte de luz;
- Sinal de Traube: som agudo como o de uma pistola (também chamado de pistol shot) ouvido na ausculta da artéria femoral durante a sístole e diástole;
- Sinal de Duroziez: sopro sistólico auscultado na artéria femoral quando se comprime a artéria proximalmente e diastólico com compressão distal;
- Sinal de Hill: pressão arterial sistólica é maior no membro inferior do que no superior, porém não é mais considerado um sinal de valvopatia importante;
- Sinal de Becker: pulsação das artérias retinianas ao exame de fundo de olho;
Concluindo, a insuficiência aórtica é uma doença que pode nos trazer vários sinais de gravidade ao exame físico, mostrando que essa é uma etapa extremamente importante na avaliação do paciente portador dessa doença e que deve ser realizada de forma bastante minuciosa buscando os achados relatados.
Referências
1- Tarasoutchi F, Montera MW, Ramos AI, Sampaio RO, Rosa VE, Accorsi TA, Santis AD, Fernandes JR, Pires LJ, Spina GS, Vieira ML. Atualização das Diretrizes Brasileiras de Valvopatias–2020. Arquivos Brasileiros de Cardiologia. 2020 Oct 23;115:720-75.
2- Mann DL, Zipes DP, Libby P, Bonow RO, Braunwald E. Braunwald: tratado de doenças cardiovasculares. InBraunwald: Tratado de doenças cardiovasculares 2018 (pp. 1224-1224).
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