Disfunção de bioprótese aórtica

Gabriel Kanhouche

Uma das principais complicações relacionada ao Implante de Prótese Aórtica Transcateter (TAVI) é a disfunção de bioprótese (do inglês, Bioprothesis Valve Dysfunction – BVD). O VARC-3 dividiu essa disfunção em 4 subgrupos conforme a etiologia e temporalidade de seu aparecimento: Alteração estrutural da prótese; alteração não-estrutural da prótese; trombose e endocardite.

A alteração estrutural da prótese, como o próprio nome já explica, são as alterações conformacionais relacionadas diretamente à prótese, como: desgaste dos folhetos, fratura do stent, flail dos folhetos, fibrose e calcificação. Em geral, essas alterações aparecem mais tardiamente e não tem correlação com o tipo de prótese escolhida.

Já as alterações não-estruturais têm seu aparecimento mais precoce e podem ter correlação com o tamanho e tipo de prótese escolhida. Sua apresentação se dá por persistência de regurgitação perivalvar, que pode ocorrer por má otimização da prótese durante o procedimento, má posicionamento ou excesso de cálcio que impeça a ótima expansão da prótese ou mismatch prótese-paciente, quando o tamanho do orifício valvar aórtico final é pequeno em relação a superfície corporal do paciente.

A trombose também representa uma disfunção de prótese e pode ser subdivida em subclínica, quando há alteração do espessamento do folheto e hipomobilidade (HALT) e trombose clínica propriamente dita. Ambas necessitam de anticoagulação para tratamento e muitas vezes não é necessário medidas intervencionistas adicionais.

A última etiologia das disfunções de prótese é a endocardite. Aos moldes do que pode ocorrer em próteses cirúrgicas e até mesmo em valvas nativas, a infecção valvar necessita de antibioticoterapia guiada por cultura e lesões extensas necessitam de abordagem cirúrgica.

As duas primeiras etiologias de disfunção podem ser corrigidas com Redo-TAVI quando factível. No entanto, endocardite e trombose podem necessitar de cirurgia convencional quando o tratamento clínico não for eficaz.

Essas disfunções podem ter repercussão clínica que são classificadas conforme a alteração hemodinâmica. O estágio 1 é quando há disfunção de prótese, sem repercussão hemodinâmica importante. O estágio 2 são alterações moderadas da hemodinâmica, com aumento do gradiente >20mmhg, diminuição do orifício valvar efetivo  >0.3cm2, aumento do pico da velocidade pelo doppler >0,1cm/s ou aumento da regurgitação periprotese maior que moderada. Por fim, o estágio 3 são alterações hemodinâmicas mais importantes com gradiente >30mmHg, diminuição da orifício valvar efetivo >0,6cm2, aumento do pico da velocidade > 0,2cm/s ou regurgitação periprotese importante em ecocardiograma de 1-3 após procedimento.

A via final dessa complicação é a falência da bioprótese (do inglês, Bioprothesis Valve failure – BVF). O estágio 1 é qualquer disfunção de prótese com novos sintomas, hipertensão pulmonar, dilatação de câmaras cardíacas ou alteração hemodinâmica estágio 3 irreversível. O estágio 2 é quando há necessidade de reintervenção. Por fim, o estágio 3 é quando há óbito relacionado a disfunção da prótese aórtica.

Referências:

Généreux P, Piazza N, et al. Valve Academic Research Consortium 3: Updated Endpoint Definitions for Aortic Valve Clinical Research. J Am Coll Cardiol. 2021 Jun, 77 (21) 2717–2746.

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