Técnicas de Punção Transeptal para Intervenções Estruturais no Coração

Mauricio Felippi de Sá Marchi

A técnica de Punção Transeptal (TSP) foi introduzida na prática clínica nos anos 1950 pelos doutores Ross, Morrow e Braunwald como uma ferramenta diagnóstica complementar na seleção adequada de pacientes para cirurgia cardíaca valvar. Com o avanço da tecnologia e, especialmente do ecocardiograma, o uso da TSP como ferramenta diagnóstica diminuiu ao longo dos anos. No entanto, a evolução da medicina trouxe consigo novos procedimentos intervencionistas que utilizam a TSP, como ablações eletrofisiológicas, isolamento de veias pulmonares, reparo ou implantação percutânea de válvula mitral, oclusão do apêndice atrial esquerdo, reparo de leaks valvares paraprotéticos e posicionamento de dispositivos de assistência ventricular esquerdo.

Com o passar do tempo, a combinação da fluoroscopia associada a ecocardiografia transoesofágica (TEE) foi se tornando uma combinação fundamental para aumentar a segurança e precisão deste procedimento. No entanto, mesmo atualmente, a realização da TSP ainda é um processo delicado, que pode ser ainda mais difícil em caso de septos interatriais desafiadores como nos casos de septos lipomatosos ou com fibrose, com risco de complicações graves e sua execução deve realizada por operadores experientes.

Por este motivo, é crucial ter um conhecimento profundo sobre os procedimentos, equipamentos, visualizações ecocardiográficas, anatomia da fossa ovalis e como lidar com as complicações mais frequentes para que se possa realizar uma TSP de sucesso. Além disso, uma vez que as referências anatômicas não são visíveis na fluoroscopia, o uso da ecocardiografia hoje em dia é fundamental para garantir uma detecção mais precisa da localização do ponto de cruzamento no septo atrial e, assim, aumentar a segurança do procedimento visando evitar complicações e um guia para identificar e tratar possíveis problemas. Além de proporcionar maior segurança para execução do procedimento, o uso do ecocardiograma transesofágico também nos permite identificar o melhor lugar para punção visando especificamente cada procedimento abordado. O ecocardiograma localiza o operador para a posição da punção nos planos superior e inferior; anterior e posterior e permite avaliar a sua altura em relação ao plano mitral. Na abordagem de regurgitação mitral com dispositivos de reparo edge-to-edge (como o MitraClip), a posição adequada da punção é crucial. Para jatos centrais de regurgitação mitral, o operador busca uma punção posterior e ligeiramente superior. Punções mais elevadas são necessárias para jatos mediais, enquanto locais de punção mais baixos são mais adequados para jatos laterais. A posição da punção transeptal para fechamento do leak paravalvar mitral requer considerações semelhantes. Para defeitos distantes do septo interatrial, a localização da punção é menos crítica. No entanto, para os defeitos mediais, uma punção posterior e ligeiramente superior fornece a altura de trabalho adequada no átrio esquerdo e permite fácil acesso a maioria dos defeitos. Na valvuloplastia mitral com balão e implantações de válvula mitral transeptal “valve-in-valve”, uma punção posterior e aproximadamente no meio da fossa oval ou mais baixa é geralmente adequada e fornece uma altura favorável de trabalho no átrio esquerdo e um plano coaxial com a válvula mitral.

O kit básico para a realização da TSP inclui uma agulha de punção transeptal, um introdutor longo e uma bainha transeptal, que podem ser complementados por outras ferramentas conforme cada tipo de procedimento.

Em resumo, a TSP é uma técnica importante na avaliação e tratamento de doenças valvares cardíacas e é amplamente utilizada na prática cardiológica contemporânea.

Referência

Russo G, Taramasso M, Maisano F. Transeptal puncture: procedural guidance, challenging situations and management of complications. EuroIntervention. 2021 Oct 20;17(9):720-727. doi: 10.4244/EIJ-D-20-00454. PMID: 33775929.

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